Emmanuel Macron, candidato vitorioso no segundo turno presidencial da França, quer salvar o euro aprofundando os laços entre os 19 países que o utilizam e completando assim, a união frágil união que ele mesmo costuma comparar a uma “meia gravidez”.

Suas chances de mudar a França e a Europa podem estar interligadas. Caso fracasse, existem chances de que o desafio populista e nacionalista – encarnada na figura de Marine Le Pen este domingo – volte a assombrar a Europa.

No centro do programa do candidato eleito estão duas mudanças profundas: a da morosa economia francesa e a da zona do euro, com todos os seus defeitos. Para atingir seu objetivo, o ex-banqueiro precisa vencer a resistência da maior economia da Europa, a Alemanha. Suas propostas, que incluem um orçamento comum para os países do bloco, vão na direção oposta do pensamento predominante no país vizinho: o de que as regras devem ser partilhadas na região, mas o dinheiro dos contribuintes de cada país deve ser mantido separado.

As pressões para uma mudança na forma como é gerida a União Europeia, no entanto, também são sentidas em Berlim. Nos últimos meses, o establishment alemão foi acossado pela possibilidade de perder seu principal parceiro na região, a França. Após a vitória do Brexit no referendo de junho passado e a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, a Alemanha temeu ficar isolada como última defensora do liberalismo global.

Marine Le Pen, ao conceder a derrota, também se proclamou a líder da oposição na França. Outros líderes eurocéticos também aguardam a chance de irradiar sua influência na Europa, incluindo Beppe Grillo, cujo partido anti-establishment Movimento 5 Estrelas é atualmente o mais popular da Itália, que deve realizar eleições no próximo ano.

Hoje, Macron demonstrou que um candidato declaradamente pró-UE pode vencer. No entanto, sua vitória sobre a Frente Nacional representa apenas um ganho de fôlego para o bloco em seu formato atual, não a salvação, e a elite política do continente sabe disso.

Líderes franceses e alemães tem agora uma chance para mudar a zona do euro e a União Europeia como um todo. Caso eles não consigam trazer de volta a confiança do eleitorado sobre o projeto europeu, que tem minguado por uma década de crises, insurgências populistas oriundas de ambos os lados do espectro político irão voltar com força no próximo ciclo eleitoral.

O crescimento econômico está lentamente voltando ao bloco, ainda que desigualmente distribuído, e marcas profundas da crise ainda persistem, incluindo o alto desemprego na França e o endividamento de governos no sul do continente.

Economistas concordam, em geral, que o euro não é uma moeda ideal. Além da limitada mobilidade dos trabalhadores entre os 19 membros, o bloco carece de impostos, gastos e empréstimos feitos em comum. Mesmo sua união bancária ficou pelo caminho, incompleta.

O aprofundamento da zona do euro, no entanto, corre o risco de elevar o temor político, em muitos europeus, de perda da soberania nacional. Dessa forma, o primeiro grande obstáculo do jovem político de 39 anos é convencer Berlim.

“Para Mácron ter sucesso, ele precisa de um parceiro na Alemanha”, afirmou o ex-diretor do Banco Central Europeu (BCE), Jörg Asmussen. “Caso Macron mostre que pode mudar a Europa, isso o ajudaria domesticamente”.

Na semana passada, Asmussen se juntou a um grupo de políticos, economistas e outras figuras públicas alemãs, predominantemente da centro-esquerda do país, em um apelo público para que Berlim se junte a Macron e não rejeite suas ideias.

A visão predominante no governo da chanceler Angela Merkel, no entanto, é de que mais passos em direção a uma integração fiscal inflamariam o populismo anti-UE ao invés de debelá-lo.

Por outro lado, Berlim também tem interesse no sucesso de Macron em um ponto onde o governo de François Hollande fracassou. A economia francesa continua sôfrega e muitos economistas prescrevem medidas para mudar a legislação trabalhista do país, acusada de contribuir para manter o desemprego no país persistentemente em torno de 10%.

O preço de um fracasso de Macron, muitos políticos europeus temem, pode ser uma vitória de Le Pen em 2022.

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Sigmar Gabriel, que recentemente deixou a liderança do Partido Social Democrata, deu boas vindas à intenção de Macron para reformar a zona do euro. Seu partido, no entanto, adota uma posição dúbia em relação a uma maior integração fiscal na região. Os democratas cristãos de Merkel se mostram ainda menos dispostos. Nenhum dos dois grandes partidos da Alemanha faz campanha com base nesse tema para a eleição de setembro.

Consciente do ceticismo do outro lado da fronteira, Macron fez a defesa de sua causa em um discurso em janeiro, na universidade de Humboldt. Sua fala foi diplomática, mas a mensagem era clara: os enormes superávits comerciais da Alemanha, juntamente com sua obsessão pela austeridade fiscal, prejudicaram o crescimento dos demais países da zona do euro e, consequentemente, o apoio ao bloco.

Ao oferecer uma espécie de “New Deal” na Europa, Macron sugere que a França precisa conquistar o apoio alemão para mudar as regras fiscais da região – e que Berlim aceite que não pode sustentar um crescimento econômico ao passo que os países vizinhos passem dificuldades. “O euro está incompleto e não pode perdurar sem novas reformas”, disse. Fonte: Dow Jones Newswires.