Terça-feira, 20 de maio, às 19h50. Aeroporto Internacional de Guarulhos, São Paulo. O executivo Laércio Cosentino, presidente da Microsiga, está prestes a embarcar rumo a Cidade do México para tentar fechar mais um bom contrato de venda de seus softwares de gestão no mercado local. Atualmente, ele conta com 34 clientes no México, além de outros 32 na Argentina e mais alguns espalhados por Chile, Porto Rico, Paraguai e Uruguai. ?Hoje, temos mercado aberto para o software brasileiro. Mas nem sempre foi assim?, diz Cosentino. A frase soa quase como um desabafo. O presidente da Microsiga foi um dos pioneiros na exportação do software brasileiro. Começou a saga internacional em 1995, levando na bagagem a obstinação, pouco conhecimento e nenhum apoio governamental. Durante dois anos voltou das viagens exatamente como tinha ido: com as mãos abanando. Até que em 1997 veio a recompensa: ele fechou o primeiro contrato na Argentina. ?Cometemos uma série de erros mas aos poucos fomos nos ajustando?, conta. ?Hoje, temos credibilidade lá fora.?

A aventura solitária da Microsiga ensinou alguma coisa à indústria do software no País. A maior delas: existe potencial tecnológico no Brasil. Um estudo feito este ano pelo renomado Massachusetts Institute of Technology (MIT) mostra que em alguns aspectos a indústria nacional do software não deve nada aos concorrentes externos e que hoje exibe um mercado semelhante a dois de seus maiores competidores, China e Índia. O Brasil movimenta internamente
US$ 7,7 bilhões em vendas, contra US$ 7,9 bilhões da China e
US$ 8,2 bilhões da Índia. A participação da indústria brasileira no PIB mais do que triplicou ao longo da década de 90, passando de 0,27% para 0,71%. Além disso, sua participação no mercado de TI (tecnologia da informação) cresceu 66%. Os índices internos são animadores. O problema é quando o estudo revela os dados de exportação. Enquanto a Índia vende US$ 4 bilhões em software para o mundo todo, o Brasil registra US$ 100 milhões de receitas ao ano. Ainda há muito o que fazer pelo software brasileiro.

O que falta, de acordo com empresários brasileiros, é definir uma política específica para o setor, principalmente no que diz respeito a exportação. Se sobra vontade dos empreendedores, falta-lhes o estímulo. Alguns problemas são conhecidos: ausência de uma estratégia de marketing que possa impulsionar o produto local no mercado externo e a inexistência de um sistema de cooperativas de exportação. ?São questões já identificadas pelo setor e que aos poucos vêm sendo trabalhadas?, diz o professor Duperron Marangon Ribeiro, sócio da Engesoftware, que acaba de firmar parceria com uma empresa escocesa para levar à Europa seu software de gerenciamento de manutenção de navios e plataformas off-shore. ?A cada ano surgem ações efetivas nesta área e, ainda que estejamos longe da política ideal, alguns passos importantes já foram dados.?

Entre eles, a inclusão do setor em várias missões comerciais do Itamaraty, além do esforço do governo para divulgar as linhas de crédito disponíveis no BNDES para empresas que pretendam se lançar no mercado externo. Fora das esferas oficiais, o que se vê são entidades tentando ajudar na conquista internacional. A Sociedade Brasileira para a Promoção de Exportação de Software (Softex) é um bom exemplo. Ela possui 19 Núcleos Regionais distribuídos pelo País, que somam mais de 800 empresas associadas. Nestes centros, os empreendedores têm acesso a noções de capacitação gerencial, mercadológica e técnica para competir no mercado externo. Há ainda escritórios internacionais (Alemanha, China, Argentina e EUA) que auxiliam companhias brasileiras e organizam eventos para apresentar o produto nacional no exterior. É um começo.