Logo depois de vetar o uso da CoronaVac em crianças em adolescentes, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou, nesta quarta-feira (18), a aplicação de uma terceira dose da vacina contra a Covid-19 para idosos e imunossuprimidos que receberam a vacina produzida pelo Instituto Butantan. A Anvisa também pediu, nesta quinta-feira (19), mais dados sobre a vacina da Pfizer e a terceira dose.

Com a decisão, fica a cargo do Ministério da Saúde estipular como deve ser feita a terceira aplicação. Em entrevista coletiva nesta quarta (18), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que os estudos já foram iniciados e que a terceira dose deve começar pelos idosos e profissionais de saúde, mas ainda sem previsão de data.

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“Planejamos, no momento que tivermos todos os dados científicos e tivermos o número de doses suficiente disponível, já orientar um reforço da vacinação. Isso vale para todos os imunizantes”, declarou Queiroga em entrevista coletiva.

A preocupação com o avanço da variante delta no Brasil é justificado, segundo um estudo do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar Ação Covid-19. Os pesquisadores elaboraram um possível cenário para a pandemia em 2022, quando o novo coronavírus poderá infectar até 71,5% da população.

A análise avalia três variáveis: duração da imunização fornecida pelas vacinas; densidade populacional e o chamado Índice de Proteção à Covid-19 (IPC), que avalia qualidade de vida junto à infraestrutura urbana. Uma cidade como São Paulo, com alto IPC, teria 36,1% da população infectada; já Olinda, com baixo IPC, poderia chegar a 71,5%.

A pesquisa ainda estipula que o novo pico de infecções pode ocorrer já no próximo mês de abril, embora não deva ser tão alto como o registrado em abril deste ano, com mais de 4 mil mortes diárias na média móvel.

Avanço da delta
A variante delta foi identificada na Índia em outubro de 2020 e já está presente em 135 países em todo o mundo. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a nova cepa já tem quase 90% de predominância global.

No Brasil, o Ministério da Saúde confirma 41 óbitos decorrentes da variante delta até 16 de agosto. De acordo com a Fiocruz, os sequenciamentos genéticos brasileiros apontaram 22,1% dos casos de Covid-19 com a Delta – em junho o total era de 2,3%.

A OMS prevê que a Delta irá tornar-se a variante predominante no Brasil em breve.

Quanto tempo dura a imunidade fornecida pelas vacinas?

Em abril deste ano, a Pfizer anunciou que seu imunizante segue altamente eficaz por pelo menos seis meses depois da segunda dose. Um estudo científico produzido pela Universidade de Yale e publicado pela Medrxiv indica que a vacina da Pfizer cai de 96% de eficácia para 84% após os seis meses.

Já uma pesquisa publicada pelo Grupo Científico de Trabalho contra a Covid-19, órgão ligado ao governo suíço, mostra que a durabilidade da imunização das vacinas que utilizam a tecnologia de RNA mensageiro (no Brasil apenas a Pfizer) podem durar até três anos, embora em menor nível de proteção.

Já uma pesquisa da Universidade de Oxford mostra que a proteção de uma pessoa vacinada com a Pfizer, que promete 96% de eficácia, cai para 85% após dois meses e 78% depois de três da segunda dose. Já quem foi vacinado com a AstraZeneca está protegido em 67% depois de um mês, 65% depois de dois meses e 61% após três.

Um estudo publicado pelo The New England Journal of Medicine indica que a vacina fabricada pela Moderna, não disponível no Brasil, mantém alta eficácia na prevenção contra a Covid-19 em pelo menos 119 dias depois da primeira dose e 90 depois da segunda. Depois desse período, como é esperado, a imunogenicidade começa a diminuir.

Ainda faltam informações e estudos sobre algumas vacinas atreladas a contextos específicos, como a variante delta, terceira dose e eficácia a longo prazo.

Um estudo publicado pela revista científica Nature mostra que os anticorpos contra o coronavírus podem durar por toda a vida em casos de pessoas que foram infectadas e conseguiram se curar.

Países ricos iniciam 3ª dose e sofrem críticas da OMS

Alemanha, Israel, França, Emirados Árabes Unidos, China e Rússia já anunciaram a vacinação da terceira dose. No entanto, a medida é criticada por alguns cientistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) que argumentam que uma terceira dose de vacina aos países ricos implica em falta de doses disponíveis aos países mais pobres, em um contexto em que ainda não há oferta de imunizantes para suprir toda a demanda global.

“Gastar recursos em doses de reforço para aqueles que já possuem proteção contra a forma grave da Covid-19 não faz muito sentido”, afirma Laith Jamal ABu-Raddad, epidemiologista da Weill Cornell Medicine, do Qatar. “Depois provavelmente teremos que pensar nisto. Mas realmente não há argumentos fortes para isso neste momento”.

O ministério da saúde de Israel, um dos países com maior taxa de vacinação do mundo, publicou que a proteção das vacinas diminuiu de 90% de eficácia para 40% depois de seis meses – declínio que foi impulsionado pela variante delta, 60% mais transmissível que a cepa original.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, pediu a suspensão da aplicação de terceira dose até o final de setembro. Ele disse ser inaceitável que países ricos usem ainda mais dos estoques globais de vacina.

Problema de poucos totalmente vacinados no embate com a delta
De acordo com o consórcio de empresas de comunicação, apenas 23,9% da população brasileira está totalmente vacinada (2 doses). O número é preocupantemente baixo no contexto de avanço da variante delta. Isso porque as primeiras doses das vacinas apresentam eficácias baixas contra a delta: 33% de Pfizer e AstraZeneca.

Dados divulgados pela Agência de Saúde Pública do Reino Unido em julho deste ano mostram que Pfizer e AstraZeneca reduzem em 90%, com as duas doses, os casos de hospitalizações contra a delta.

Portanto, a nova cepa exige mais que nunca a vacinação completa em todo o mundo. Apenas dessa maneira o vírus deve frear sua circulação – caso contrário, sempre poderá surgir uma nova e preocupante variante.