Vantajosas para quem foge de filas em agências bancárias e de longas esperas em serviços de callcenter, as contas 100% digitais estão cada vez mais difíceis de se encontrar – sobretudo nos grandes bancos. Neste mês, Bradesco e Itaú anunciaram que vão descontinuar suas contas digitais gratuitas, reduzindo ainda mais as opções para quem busca serviços bancários sem custo. Ainda que nada mude para os clientes que já usam essas contas nos dois bancos, não será possível fazer a migração para esse tipo de produto no caso de quem já é correntista.

Por outro lado, o Banco do Brasil, que havia encerrado sua conta digital em outubro do ano passado, relançou a modalidade um mês depois, com o objetivo de concentrar esforços no segmento. O banco vetou, porém, a migração a clientes que já tenham conta na instituição. Também vem crescendo o número de clientes de bancos novatos, como Intermedium e Sofisa Direto.

As contas digitais, regulamentadas pelo Banco Central na resolução 3.919/2010, que vigora desde 2011, permitem movimentação exclusiva por canais de autoatendimento, como internet banking, aplicativo e caixa eletrônico. Esse tipo de conta é isenta de tarifas para transferências bancárias e consulta de extratos, além de também oferecer um cartão de débito. Caso o consumidor queira utilizar canais telefônicos ou ir até a agência, a operação será cobrada como um serviço à parte, segundo os pacotes de tarifas de cada banco.

“A tendência é essas contas desaparecerem dos grandes bancos”, afirma Ione Amorim, economista do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec). Na sua avaliação, os bancos promoveram a abertura das contas digitais gratuitas como forma de atrair o consumidor para o ambiente virtual, além de incentivar o esvaziamento das agências, o que reduz custos. “Agora, o movimento é o inverso: os bancos já atingiram esse propósito e promoveram essa migração, por isso vêm parando de oferecer essas contas.”

Diretor da consultoria Capgemini, Daniel Rocha considera irreversível o uso das contas digitais, mas agora com custos. “Os bancos caminham para oferecer esses serviços com tarifa diferenciada”, diz.

O Bradesco justifica o fim de sua conta exclusivamente eletrônica em função de “novas frentes de soluções digitais que estão sendo desenvolvidas”. Em reportagem do jornal O Estado de S. Paulo de agosto do ano passado, fontes afirmaram que o banco preparava ainda para o fim de 2016 o lançamento de uma marca que deve concentrar todos os seus serviços digitais, a Next. O banco não comenta o assunto. Já o Itaú diz que “pesquisas internas apontaram a necessidade de simplificar sua prateleira de pacotes”.

No caminho inverso, o banco Intermedium tem planos para oferecer uma conta digital gratuita também para o cliente pessoa jurídica a partir do segundo semestre. Atualmente, os serviços para a pessoa física são pagamentos, transferências entre bancos, depósitos e cartão com funções débito e crédito. A taxa de juros no rotativo é de 5% ao mês. Nos maiores concorrentes, a média está em 15% ao mês. Já o Original cobra uma taxa de R$ 9,90 por mês no primeiro ano pelo pacote básico.

No Neon, é grátis apenas a primeira transferência do mês para outro banco. As demais funções são gratuitas. Sofisa Direto também oferece esses serviços, salvo cartões. À reportagem, o banco disse que lançará em breve um cartão de débito. No Santander, é possível abrir uma conta por aplicativo, mas as tarifas variam de acordo com os pacotes de serviços. A Caixa não tem contas digitais.

Irregularidades

Ao optar por uma conta digital, o consumidor precisa estar atento para irregularidades ou tentativas de venda casada, alerta a economista do Idec Ione Amorim. “Pode haver pressão do funcionário do banco para empurrar, junto com a conta, um seguro ou mesmo um cartão de crédito, que vai ter anuidade”, diz. Essa prática, explica ela, configura venda casada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.