Ser o primeiro a fazer algo acarreta maiores desafios. Afinal, não há referência ou ajuda da experiência de pessoas próximas. Digamos que se fosse uma corrida, os que inauguraram algo encontram mais barreiras. Quando aplicado para a realidade educacional e profissional, essa condição provoca, àqueles que primeiro se formam em uma graduação em sua família, maior dificuldade para encontrar empregos correspondentes. Sem referencial, indicações ou rede de contatos, a busca por um cargo dentro de sua área de formação pode não vir. Para endereçar essa questão e ajudar essas pessoas, Gilberto Castro (ex-Ambev e ex-CEO da Estácio) criou um instituto focado em empregar as primeiras gerações de formados em universidades e auxiliar na complementação da formação.

Mais do que uma demanda do mercado, a iniciativa nasce de uma questão pessoal. Após sair da Estácio, Gilberto passa uma temporada nos Estados Unidos, por motivos familiares. Lá faz um doutorado em educação e fica afastado do universo corporativo do qual fez parte por quase 30 anos. Com a pandemia, volta ao Brasil com a família e decide criar o Instituto Primeira Geração (PriG). “Eu não queria voltar para a carreira de executivo. Quero fazer outras coisas da vida”, disse. A ideia para o PriG parte de seu contato com o mundo educacional, considerando seus sete anos na Estácio, sua experiência como gestor e sua própria história de vida. “Acho que eu tenho um conhecimento instalado de educação de nível superior e de desenvolvimento profissional para ajudar algumas pessoas”, disse Castro.

Para perseguir sua missão, o PriG se baseia em dois pilares complementares, geração de renda e aprimoramento. A ideia, para Castro, é o famoso “dar o peixe e ensinar a pescar”. A renda é garantida com um contrato profissional de estágio para o pós-graduação – modalidade não muito comum no Brasil, mas que compõe um custo mais baixo para as empresas, ao mesmo tempo que pressupõe a construção de formação profissional. O aprimoramento vem com um curso de pós-graduação em Negócios e Gestão de Pessoas na Descomplica, além de outros complementares em instituições parceiras como a FRST Falconi e projetos de mentoria, visando fornecer recursos com um olhar ampliado sobre carreira e negócios, para além da teoria acadêmica.

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“Quero ajudá-los a desenvolver habilidades socioemocionais e técnicas para que possam crescer e amadurecer profissionalmente” Gilberto Castro Fundador do PriG.

O projeto foi desenhado para garantir um ciclo virtuoso de perpetuação de oportunidades. A ideia do instituto é que aqueles que passam por ele se tornem líderes que no futuro terão um olhar mais acolhedor para a diversidade de formação, passado e experiência dos candidatos, ajudando, inclusive, na manutenção do PriG e de seus programas a partir do exemplo. “Eu quero ajudá-los a desenvolver as habilidades socioemocionais e técnicas para que eles possam crescer profissionalmente, amadurecer profissionalmente”, disse Castro. A primeira turma foi formada em março de 2021, com 60 pessoas. Dessas, 73% foram efetivadas nos empregos após o fim do contrato de estágio. O número de pessoas contempladas pelo instituto depende do número de vagas abertas nas empresas parceiras, que já incluem nomes como Ambev, Log-In e Suzano. A segunda turma também teve 60 participantes e está na fase final.

Sem fins lucrativos, a manutenção do instituto tem, atualmente, algumas fontes. A primeira são recursos próprios de Castro. As demais incluem doações de empresas e pessoas físicas, um fee das empresas parceiras e o pagamento de um salário de contratação caso haja efetivação do profissional, além de uma compensação dos próprios contemplados pelo programa. A condição é de que no período de até 60 meses, caso a pessoa receba um salário acima de R$ 3 mil, ela colabore com R$ 450 mensais para o instituto, até chegar ao teto de R$ 16 mil. De acordo com Castro, essa formatação garante mais efetividade para o instituto, já que sua sustentação está baseada no sucesso de suas ações. “Se você concentra sua receita só em doação, é muito difícil garantir que na outra ponta você de fato esteja fazendo alguma coisa importante.”

Até 2030 o objetivo do PriG é impactar a vida de 10 mil pessoas, seja com o programa de MBA ou com outras ações que podem ser desenhadas conforme recursos e possibilidades. Nas palavras de Castro, o objetivo é “ajudar as pessoas da primeira geração a se tornarem tão competitivas ou até mais do que quem não é da primeira geração, entrarem no mercado de trabalho e ajudarem a gente a transformá-lo”.