Por Karen Braun

(Reuters) – O relatório de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) de fevereiro costuma ser monótono, e isso se confirmou desta vez, mesmo com grandes cortes nas colheitas afetadas pela seca na Argentina.

Mas, apesar da maioria dos principais números do relatório chegarem perto das expectativas, pode haver mais pressão sobre a demanda de milho dos EUA do que aparenta, após o aumento da concorrência nas exportações na atualização desta quarta-feira.

As estimativas do USDA sobre as safras de milho e soja da Argentina ficaram abaixo das estimativas comerciais em mais de 1 milhão de toneladas cada. Os analistas normalmente veem o USDA como sendo mais conservador com cortes de colheita em comparação com outras agências.

A nova estimativa de produção de soja de 41 milhões de toneladas caiu 20% sem precedentes em relação ao padrão inicial do USDA e caiu 10% em relação a janeiro. Reduções mensais dessa magnitude são extremamente raras, mas foram observadas em 2009 e 2018, outros dois anos de seca severa para a Argentina.

Em ambos os anos, as safras finais de soja foram um terço menores do que o USDA previu originalmente. Aplicando essas perdas a 2023 renderia 34 milhões de toneladas, ainda muito abaixo da previsão atual.

Mas esse número já está em jogo. A bolsa argentina de comércio de Rosário cortou na quarta-feira a safra de soja para 34,5 milhões de toneladas, ante 37 milhões anteriormente, alertando para mais calor e seca nas próximas duas semanas.

Rosário também reduziu sua previsão de safra de milho para 42,5 milhões de toneladas, de 45 milhões, e o USDA fez um corte de 10% para 47 milhões, de 52 milhões. A agência norte-americana no mês passado viu o rendimento do milho argentino ligeiramente acima da média de cinco anos, mas agora ele é visto caindo 6%.

A produção de milho da Argentina é significativamente mais robusta do que em 2009, então esse ano pode não ser uma boa comparação, mas as tendências nas estimativas da safra de 2018 sugerem que a colheita deste ano pode cair para a faixa de 40 milhões.

Nos últimos seis anos, as estimativas iniciais do USDA sobre a produção argentina de milho versus as finais foram divididas: três eram muito altas e três muito baixas. Mas este ano marcará a sétima temporada consecutiva em que a produção de soja argentina ficará abaixo das ideias originais.

EXPORTAÇÃO DE MILHO

O USDA deixou as safras de milho e soja do Brasil inalteradas, embora a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) tenha cortado nesta quarta-feira a segunda safra de milho com base no plantio tardio no Estado de Mato Grosso.

Os estoques finais de milho dos EUA aumentaram como esperado na atualização do USDA, mas foi uma redução no milho usado para produção de etanol e não nas exportações, o que poderia ser justificado devido ao ritmo lento de embarques e vendas.

Isso abre as portas para outra redução da demanda por milho nos EUA em breve, especialmente se a sorte dos exportadores não mudar imediatamente. As suposições do USDA em nível de país para o comércio de grãos não são públicas, mas o movimento mais recente entre os principais participantes do mercado parece cada vez mais espremer o milho dos EUA fora do mix.

O USDA adicionou 3 milhões de toneladas às exportações brasileiras de milho 2022/23, que aumentaram para 50 milhões, apesar de nenhuma mudança na produção. A China compra milho brasileiro há mais de dois meses, tornando-se em janeiro o maior cliente de milho do Brasil.

O maior problema dos exportadores de milho dos EUA tem sido a flagrante ausência da China em seu mercado este ano em relação aos dois últimos. Tanto o USDA quanto o ministério da China deixaram na quarta-feira as importações chinesas de milho de 2022/23 inalteradas em 18 milhões de toneladas, uma mínima de três anos.

As exportações de milho da Ucrânia também aumentaram 2 milhões de toneladas, para 22,5 milhões, bem acima dos sombrios menos de 10 milhões de ideias de meados do ano passado. A China é um dos principais compradores de milho ucraniano, embora o aumento das exportações deste mês possa ser alocado principalmente para a Europa, já que suas perspectivas de importação aumentaram.

O USDA reduziu as exportações de milho da Argentina com a safra menor, mas o país não envia milho para a China.

Karen Braun é analista de mercado da Reuters. As opiniões expressas acima são dela.

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