Em um país que mesmo antes da pandemia de coronavírus tinha desemprego próximo de 12%, a falta de mão de obra em tecnologia permitia que esses profissionais pudessem escolher onde trabalhar. Essa vantagem competitiva não deve desaparecer no longo prazo – na semana passada, a consultoria McKinsey divulgou estudo prevendo que o Brasil terá escassez de 1 milhão de trabalhadores no setor até 2030. Mas, no curto prazo, com milhares de demissões em startups por causa da pandemia de coronavírus, até esse grupo passou a valorizar o fator segurança. E muitos estão trocando startups por companhias tradicionais.

O presidente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), Amure Pinho, admite a ofensiva de grandes negócios por trabalhadores formados nas 13,5 mil empresas nascentes do País. “Muitas startups tiveram de demitir e isso colocou muita gente competente à disposição das companhias que buscam acelerar seus projetos digitais”, afirma. Entre as empresas que estão aproveitando os dias de isolamento social para tentar “virar a chave” para o digital estão Grupo Boticário, Guararapes (controladora da Riachuelo) e Via Varejo (dona da Casas Bahia).

O trabalho de quem “caça” esse tipo de profissional foi facilitado pelas circunstâncias, segundo Luana Castro, responsável pela área de TI na consultoria de recursos humanos Michael Page. Segundo estudo da consultoria, a demanda por profissionais se estende por todos os níveis hierárquicos – de analistas que recebem a partir de R$ 4 mil a executivos de ciência de dados que podem ganhar quase R$ 30 mil. E ela diz que a busca de empresas tradicionais por esses profissionais está compensando o fechamento de vagas em startups. “Essas pessoas não têm problemas em se recolocar. Isso não mudou”, ressalta a executiva.

Nova realidade

O que mudou, segundo a especialista, foi a disposição em ouvir propostas de negócios tradicionais. “Antes, era comum o profissional nem retornar o contato. Agora, está todo mundo conversando.” Demissões em startups como a unicórnio Gympass, a Max Milhas e o banco digital C6, obrigaram esses profissionais a mudar de postura. “O fator segurança passou a entrar na conta”, diz Luana, da Michael Page.

Com 50 vagas abertas em TI, o banco Bexs é uma espécie de “mix” de empresa tradicional e startup, uma vez que mais recentemente se especializou principalmente em processar pagamentos de produtos e serviços comprados no exterior, apesar de ter 30 anos de estrada. O presidente do Bexs, Luiz Henrique Didier Júnior, afirma que hoje está “um pouco mais fácil” de encontrar profissionais. “Antes, disputava a preferência com as startups. Agora, minha briga é com as grandes empresas tradicionais.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.