Para a maior parte dos mortais, nanotecnologia é apenas mais um vocábulo do intrincado dicionário científico. Para a alemã Henkel, dona de marcas como Super Bonder e cuja receitas globais somam 14 bilhões de euros, porém, a menor unidade de medida (nanômetro) significa mais dinheiro em caixa. 

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Kampff, da Henkel: o investimento da companhia alemã em pesquisa
e desenvolvimento é de 400 milhões de euros por ano

É graças ao uso dessa tecnologia que a empresa tem ganhado espaço no mercado nacional. Com ela, desenvolveu colas especiais para seduzir seus clientes e fazer o faturamento crescer de forma contínua. 

 

Nos últimos cinco anos avançou 66%, saindo de R$ 510 milhões, em 2004, para R$ 840 milhões, no ano passado. Números que assumem uma especial importância quando se observa que o segmento de colas e adesivos, um dos principais negócios da companhia, está praticamente estagnado e ainda luta para voltar aos níveis de 2005 (leia quadro abaixo). 

 

Os novos produtos permitiram à empresa entrar em segmentos como a indústria automotiva. O alvo da Henkel são montadoras e empresas que possuem grandes frotas de veículos (ônibus e caminhões). Mas como transformar essas tecnologias em algo mais palatável para o consumidor? 

 

A resposta foi a adoção do programa Pró-Ativa, criado pela filial americana e que funciona, na prática, como uma consultoria ao cliente. Para convencer os mais céticos a trocarem porcas e parafusos por colas especiais, Julio Muñoz Kampff, presidente da Henkel para o Mercosul, usa um argumento interessante: “Parece inseguro andar num ônibus colado em vez de soldado? Pois esta é a tecnologia utilizada nos foguetes da Nasa”, diz o executivo. 

 

Estes produtos são fruto de alguns anos de estudos e cerca de 400 milhões de euros aplicados anualmente em pesquisa e desenvolvimento.“Inovação não é apenas uma palavra da moda.  Ela tem sido a base do nosso crescimento”, diz Kampff. Um bom exemplo disso é a famosa cola de sapateiro. A versão da Henkel não leva mais o composto químico toluol em sua fórmula. Com isso, a companhia eliminou o componente que pode causar dependência química. 

 

Hoje, utiliza esse diferencial para incrementar as vendas nesse filão. Também já é possível usar Super Bonder sem colar os dedos. Uma das linhas do produto possui componentes que fazem com que a cola seque mais lentamente. Isso garante maior precisão no trabalho, além de eliminar o risco de acidentes. 

 

Trata-se, no entanto, de apenas uma parte da estratégia desenhada por Kampff para a região, no geral, e o Brasil, em particular. A ambição do executivo é colocar o País no mesmo patamar de Europa e Estados Unidos, nos quais os consumidores dizem um rotundo não a produtos insustentáveis do ponto de vista ambiental ou social. 

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“A aposta na inovação é uma resposta da indústria química em todo o mundo à crescente pressão por produtos menos agressivos ao meio ambiente”, pontua Tais Sozo, da consultoria Maxiquim. O viés, digamos, ecológico não é a única motivação do presidente da Henkel. 

 

A crise global desencadeada no final de 2008 causou o encolhimento das economias maduras. “A busca por tecnologias inovadoras e novos mercados é um movimento universal que está apenas começando”, acrescenta o coordenador da comissão setorial de colas, adesivos e selantes da Associação Brasileira da Indíustria Química (Abiquim), José Duarte. E o objetivo da Henkel Brasil é liderar essa tendência no Mercosul.