Apesar dos compromissos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, os planos para a produção de combustíveis fósseis ainda são amplamente inconsistentes com os objetivos do Acordo de Paris, segundo um estudo divulgado nesta quarta-feira (20).

Os principais produtores de petróleo, gás e carvão apresentam um discurso duplo no que diz respeito ao cumprimento de seus objetivos ambientais, afirma o estudo copatrocinado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pelo Instituto do Meio Ambiente de Estocolmo, divulgado a menos de duas semanas da Conferência sobre Mudança Climática (COP26) de Glasgow.

“Alguns países, inclusive, estão acelerando o ritmo de produção, com a ideia de ser ‘o último que abandona’ o gigantesco negócio dos combustíveis fósseis”, declarou Michael Lazarus, um dos coautores do estudo.

“Os governos planejam produzir 110% mais de combustíveis fósseis até 2030 do que seria coerente com o limite do aquecimento global de 1,5ºC, e 45% mais do que seria coerente com o limite a 2ºC”, explica o documento.

E a diferença entre o que deveria acontecer e o que vai acontecer na realidade aumentará até 2040, advertem os autores do estudo, que teve a primeira edição divulgada em 2019.

A pior situação é a do carvão: os planos e projeções dos 15 países examinados prevem que a produção deste combustível vai aumentar 240% até 2030.

A produção de petróleo aumentará 57% e a de gás 71%.

“Chegou o momento para que os países alinhem seus planos do setor energético com suas ambições climáticas”, advertiu Niklas Hagelberg, coordenador do subprograma de mudança climática do PNUMA.

– Brasil entre os criticados –

Entre os 15 países analisados estão Brasil e México, duas nações que não se comprometeram a reduzir drasticamente as emissões de gases do efeito estufa até 2030, um dos compromissos cruciais da COP26 de Glasgow.

O plano energético do Brasil até 2050 demonstra que o governo “pretende atrair investimentos e aumentar a produção de petróleo e gás” para transformar o país em um dos cinco principais produtores mundiais, afirma o estudo.

Alguns países considerados exemplares na luta contra a mudança climática também são criticados.

A Noruega, que tem um fundo de investimentos de mais de um trilhão de dólares graças à exploração ininterrupta de suas reservas de petróleo e gás, limitou-se a anunciar que vai interromper os investimentos na extração de carvão e de algumas atividades petroleiras.

Mas o país mantém os objetivos nacionais em termos de combustíveis fósseis, ao mesmo tempo que se proclama um campeão da causa ecológica.

A Noruega pretende aumentar os cortes de emissões de gases do efeito estufa até 50-55% em 2030, de acordo com um anúncio recente.

Desde o início da pandemia de covid-19, os países do G20 gastaram mais de 300 bilhões de dólares no setor de combustíveis fósseis, revela o estudo.

A própria Agência Internacional de Energia (AIE) reconheceu em seu relatório mais recente que a pressão para consumir fontes de energia baratas e abundantes não vai diminuir nas próximas décadas, apesar dos cenários catastróficos divulgados pelos especialistas do clima para 2050.

“A energia moderna é inseparável do modo de vida e das aspirações de uma população mundial que crescerá em quase dois bilhões de pessoas até 2050”, advertiu a AIE.