O procurador-geral saudita pediu, nesta quinta-feira (15), a pena de morte para cinco acusados no caso do homicídio do jornalista Jamal Kashoggi, “drogado, assassinado e esquartejado” no consulado saudita em Istambul, mas eximiu o poderoso príncipe-herdeiro de qualquer culpa no caso.

O homicídio, em 2 de outubro, do jornalista, crítico do poder saudita e colaborador, entre outros, do jornal Washington Post, se tornou um escândalo de escala global.

Nesta quinta-feira, os Estados Unidos anunciaram sanções econômicas contra 17 autoridades sauditas envolvidas neste assassinato, entre elas pessoas próximas ao príncipe-herdeiro, Mohammed bin Salman, assim como o cônsul-geral em Istambul, Mohammed Al Otaibi.

O príncipe-herdeiro, apelidado de “MBS”, não estava a par do caso, afirmou o procurador-geral e porta-voz, Shaalan al Shaalan, em resposta à pergunta de um jornalista.

Segundo o mesmo porta-voz, o subdiretor dos serviços de Inteligência, general Ahmed al-Asiri, ordenou que Khashoggi fosse levado por bem, ou por mal, mas o chefe da equipe de “negociadores” enviados ao local ordenou matá-lo.

Os restos mortais do jornalista, de 59 anos, foram depois entregues a um agente do lado de fora do consulado, acrescentou Shaalan, citado pela agência oficial de notícias SPA.

Do total de 21 suspeitos, o procurador-geral indiciou até agora 11 pessoas que terão de comparecer diante dos tribunais.

O chanceler saudita, Adel Al-Jubeir, por sua vez, afirmou que o príncipe-herdeiro “não tem nada a ver” com o assassinato de Khashoggi.

O Departamento de Estado americano considerou estas primeiras acusações como “um bom primeiro passo” em “uma boa direção”, enquanto exigiu que Riad prosseguisse com a investigação.

– Explicação “insuficiente” –

Também nesta quinta, o procurador-geral pediu à Turquia que firme um acordo “especial” de cooperação para investigar o homicídio.

A Turquia respondeu dizendo que considera insuficiente a explicação da Procuradoria saudita e insistindo em que tudo foi premeditado.

“Todas estas medidas são certamente positivas, mas também insuficientes”, declarou o ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Cavasoglu.

“Este assassinato, como já dissemos, foi planejado antecipadamente”, acrescentou, rejeitando a versão de que os assassinos de Khashoggi tentaram primeiro trazê-lo de volta ao país.

“O esquartejamento do corpo não foi espontâneo”, acrescentou o ministro turco. “Anteriormente, [os sauditas] trouxeram pessoas e material necessário para fazê-lo”.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, já havia aumentado a pressão sobre a Arábia Saudita, quando garantiu, no sábado passado, ter compartilhado gravações sobre a morte de Khashoggi com Riad, Washington e outras capitais.

O próprio Erdogan havia dito, em um artigo de opinião, que a ordem para assassinar o jornalista saudita emanou “dos mais altos níveis do governo” de Riad.

O presidente turco descartou a responsabilidade do rei Salman, mas não a de seu filho, Mohamed, acusado por autoridades e pela imprensa turcos.

– Justiça aparente –

Após negar inicialmente o assassinato, as autoridades sauditas falaram primeiro de uma “briga” que acabou mal, antes de afirmar que o jornalista morreu durante uma operação não autorizada e sobre a qual o príncipe-herdeiro não tinha sido informado.

Para H. A. Hellyer, pesquisador do Atlantic Council de Washington e do Royal United Services Institute de Londres, Riad tenta “demonstrar ao mundo que se aplica uma justiça aparente”.

Mas, seguindo ele, continua de pé a pergunta que todo mundo se faz. “Quem deu a ordem (para matar Khashoggi) a estas altas autoridades? O príncipe-herdeiro parece agora descartado da investigação, apesar dos múltiplos vínculos que tem com estas autoridades”.

Este caso arranhou a imagem da Arábia Saudita, um reino ultraconservador que tentava, por iniciativa precisamente de “MBS”, uma estratégia de modernização e abertura, mediante o anúncio de medidas econômicas e sociais liberais.

O caso fragilizou também a diplomacia saudita: Riad está agora na defensiva, especialmente sobre sua intervenção militar no Iêmen, que provocou muitas vítimas civis.