A opositora Svetlana Tikhanovskaya, rival na eleição presidencial do autoritário chefe de Estado de Belarus, Alexander Lukashenko, se refugiou nesta terça-feira (11) na Lituânia após a segunda noite de protestos contra o regime, violentamente reprimidas e que terminaram com um morto.

O ministro lituano das Relações Exteriores, Linas Linkevicius, informou à AFP que Tikhanovskaya estava a “a salvo” em seu país, vizinho de Belarus.

A candidata confirmou que tomou a “difícil decisão” de abandonar o país, em plena repressão ao movimento de protesto após a eleição presidencial muito questionada.

“Tomei esta decisão sozinha e sei que muitos me condenarão, muitos vão me odiar”, declarou Tikhanovskaya.

Na segunda-feira à noite a equipe de Tikhanovskaya informou que não sabia o paradeiro da opositora desde que ela havia deixado a Comissão Eleitoral, onde permaneceu retida por várias horas. Ela compareceu ao local para apresentar uma denúncia por fraude eleitoral.

Svetlana Tikhanovskaya, de 37 anos, novata na política, emergiu em poucas semanas como uma inesperada rival para Lukashenko, de 65 anos e que governa o país desde 1994.

Esta professora de inglês substituiu na disputa presidencial o marido, Serguei, um conhecido blogueiro, detido em maio.

Após a eleição de domingo, Tikhanovskaya exigiu que Lukashenko “ceda o poder” e afirmou que não reconhecia os resultados oficiais, que mostram a vitória do presidente com 80,08% dos votos, contra 10% para ela.

A candidata, no entanto, se negou a participar nas manifestações duramente reprimidas no domingo e segunda-feira pelas forças de segurança, que utilizou bombas de efeito moral e balas de borracha e anunciou muitas detenções para acabar com os protestos em Minsk.

Nesta terça-feira circulavam nas redes sociais convocações para uma greve geral.

– Barricadas e um morto –

Na segunda-feira à noite foram instaladas barricadas nas ruas centrais de Minsk, um sinal do aumento da tensão, e várias explosões foram ouvidas na cidade.

Um manifestante morreu após a explosão em suas mãos de um objeto que ele pretendia lançar contra as forças de segurança, anunciou a polícia.

“Vergonha”, gritavam os manifestantes, que enfrentaram a polícia com pedaços de pau e as próprias mãos.

Nos últimos dias, as autoridades intensificaram os esforços para conter o avanço de Tikhanovskaya e não hesitaram em deter vários colaboradores da candidata.

Uma de suas aliadas, Veronika Tsepkalo, esposa de um opositor impedido de participar na eleição presidencial, deixou Belarus no domingo e está na Rússia.

O ministério do Interior informou que 3.000 pessoas foram detidas na noite da eleição. Também anunciou um balanço de 50 civis e 39 policiais feridos em 33 localidades.

Lukashenko chamou os manifestantes de “ovelhas” teleguiadas a partir de Londres, Varsóvia e Praga, e afirmou que não deixaria o país ser “feito em pedaços”.

Em 2010, após a eleição presidencial, as manifestações foram brutalmente reprimidas.

– Condenações ocidentais –

No Ocidente, a Casa Branca disse na segunda-feira que está “profundamente preocupada” com a eleição presidencial e pediu às autoridades que permitam protestos.

A assessora de imprensa do presidente Donald Trump, Kayleigh McEnany, disse que “a intimidação de candidatos da oposição e a detenção de manifestantes pacíficos” estavam entre os vários fatores que “prejudicaram o processo”.

A Comissão Europeia, assim como França, Alemanha e Reino Unido, além da Otan, condenaram a repressão. A Polônia pediu uma reunião da UE sobre a questão.

Os presidentes da Rússia e China, Vladimir Putin e Xi Jinping, parabenizaram o presidente Lukashenko.

Nas últimas semanas, o presidente bielorusso acusou Moscou de querer subjugar seu país e de tentar desestabilizá-lo, em particular enviando mercenários.

A campanha eleitoral foi marcada por um fervor sem precedentes por Svetlana Tikhanovskaya. Antes de sua candidatura, os principais rivais de Lukashenko haviam sido vetados da disputa presidencial.

A mobilização ocorreu apesar das dificuldades econômicas, exacerbadas pelas tensões com a Rússia e pela resposta de Lukashenko à epidemia de coronavírus, que o presidente chamou de “psicose”.