Desde a inesperada decisão por referendo de abandonar a União Europeia até a renúncia da primeira-ministra, Theresa May, nesta sexta-feira (24), o Reino Unido viveu quase três anos de um tortuoso caminho rumo a um Brexit incerto.

– Voto a favor do Brexit –

Em 23 de junho de 2016, em um referendo que terminou com 52% de votos a favor e 48% contra, os britânicos decidiram deixar a União Europeia.

Este resultado levou o então primeiro-ministro conservador, David Cameron, a renunciar. Na disputa por substituí-lo, o ex-prefeito de Londres, Boris Johnson, partidário do Brexit, se retirou no último momento e Theresa May, ministra do Interior de Cameron durante seis meses, se tornou primeira-ministra em 11 de julho.

– A largada –

Em 29 de março de 2017, o governo britânico ativou com uma carta a Bruxelas o Artigo 50 do Tratado Europeu de Lisboa, que rege o mecanismo de retirada voluntária de um país-membro.

Iniciou-se, assim, o prazo de dois anos que devia resultar na saída britânica do bloco, inicialmente prevista para 29 de março de 2019.

– May perde a maioria –

May antecipou as eleições para 8 de junho em uma tentativa de fortalecer sua posição, mas perdeu a maioria absoluta e teve que negociar o apoio dos dez deputados do partido unionista norte-irlandês DUP para poder governar.

A questão da Irlanda se tornou o principal obstáculo da negociação sobre os termos do divórcio. A UE e Dublin exigem que a fronteira entre a província britânica da Irlanda do Norte e a República da Irlanda continue sendo de livre trânsito, mas isto causa mal estar com a oposição do DUP a que os norte-irlandeses tenham um tratamento diferente do restante dos britânicos.

– Acordados os termos-chave –

Após acordar alguns termos do divórcio em seguida a maratônicas negociações em 8 de dezembro de 2017, Londres e Bruxelas não conseguem chegar a um acordo completo até 13 de novembro de 2018.

Este teve que superar uma ameaça de veto proposta na última hora pela Espanha, devido às relações com Gibraltar, mas finalmente, em 25 de novembro, Reino Unido e os 27 membros do bloco assinaram o Tratado de Retirada e uma declaração política sobre sua futura relação.

– Votação adiada –

A Câmara dos Comuns deveria ratificar ou rejeitar os dois textos em uma votação histórica em 11 de dezembro. Mas diante da evidência de que se encaminhava para a derrota, May anunciou em 10 de dezembro o adiamento da sessão e que pediria mais “garantias” aos líderes europeus.

Em 12 de dezembro, cerca de 50 rebeldes entre os 317 deputados do Partido Conservador de May lançaram uma moção de censura para tirá-la do poder, mas fracassaram: 200 votaram a favor e 117, contra.

– Primeira rejeição do acordo –

O debate é retomado em 9 de janeiro. Em 15 de janeiro, o acordo negociado por May com Bruxelas sofreu uma dura derrota no Parlamento de Westminster: 432 deputados votaram contra e apenas 202 a favor.

O líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, imediatamente apresentou uma moção de censura contra o governo de May. No dia seguinte, a moção foi rejeitada por uma maioria apertada de 325 deputados, contra 306.

– Renegociação e segunda rejeição –

May obteve mais garantias da UE sobre a salvaguarda irlandesa, mas o Parlamento britânico voltou a rejeitar em 12 de março esta “versão melhorada” do acordo.

O Conselho Europeu concordou em adiar a partida até 22 de maio se o Reino Unido aprovasse o Tratado de Retirada, deixando-o caso contrário um prazo até 12 de abril para apresentar uma proposta alternativa.

– Terceira rejeição e segunda prorrogação –

Em 27 de março, enquanto o Parlamento debatia as possíveis alternativas ao acordo de May, a primeira-ministra reuniu seus deputados e prometeu renunciar assim que o texto fosse aprovado. No entanto, dois dias depois, o texto foi rejeitado por 344 votos contra 286.

May decidiu, então, voltar-se para a oposição trabalhista em busca de um compromisso para sair do impasse parlamentar e em 11 de abril obteve da UE um adiamento flexível: até 31 de outubro, mas com a possibilidade de sair antes do bloco se Londres encontrar uma solução.

– Quarta votação anulada e renúncia –

Em 17 de maio, o Partido Trabalhista (opositor) retirou-se das negociações, afirmando que a crescente “fragilidade e instabilidade” de May a incapacitavam para alcançar um compromisso.

Em 21 de maio, a primeira-ministra anunciou que convocaria no começo de junho uma nova votação, inclusive algumas das reivindicações trabalhistas, mas diante das evidências de que voltaria a fracassar dois dias depois, decidiu adiá-la.

Em 24 de maio, com a voz embargada e à beira das lágrimas, May anunciou que deixará as rédeas do partido e do governo em 7 de junho, abrindo a via para a sua sucessão.