Abaixo estão três listas. A primeira contém os dez maiores países produtores de automóveis. Foi feita pela Organização Internacional de Produtores de Automóveis (Oica, ou Organisation Internationale des Contructeurs d’Automobiles, em francês). Os dados são da produção de 2019. Pré-pandemia, para desindexar auxílios que a indústria possa ter recebido em diferentes governos nos dois últimos anos. A China lidera, tendo o Brasil na oitava posição (em milhões de unidades):

1. China (25.7)
2. Estados Unidos (10.9)
3. Japão (9.7)
4. Alemanha (4.7)
5. Índia (4.5)
6. México (4.0)
7. Coreia do Sul (3.9)
8. Brasil (2.9)
9. Espanha (2.8)
10. França (2.2)
Vamos à segunda lista. Reúne dados, segundo o site Statista, dos países com a maior frota de veículos (em uso) tanto na categoria chamada BEV (também conhecida por EV, que são veículos elétricos movidos por bateria) quanto na categoria PHEV (Plug-in Hybrid Electric Vehicle, ou veículos híbridos recarregáveis). O ranking é dominado pela China. Somadas as duas categorias (BEV e PHEV) teremos (em milhares de unidades):
1. China            4.508
2. EUA            1.778
3. Alemanha        633
4. Noruega        484
5. Reino Unido        434
6. França        416
7. Japão            293
Agora, a terceira seleção. Antes é preciso deixar claro que as montadoras não passaram a investir bilhões nesse segmento porque veículos elétricos são legais. Desenvolver um produto complexo e em escala global exige tempo e muito dinheiro. Elas começam a seguir por essa estrada por dois motivos: a) os consumidores, em especial os mais jovens, exigem; b) os países criam obrigações normativas e legais para que isso ocorra. A terceira lista é a de países que determinaram prazos para a adoção de veículos elétricos, totalmente ou de proibição de vendas de veículos de motores a combustão, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA, ou International Energy Agency, em inglês).

2025: Noruega
2030: Dinamarca, Eslovênia, Holanda, Irlanda, Islândia, Israel, Reino Unido e Singapura
2035: Cabo Verde, Canadá, China, União Europeia e Japão

Você viu o nome do Brasil nas listas do futuro? Não. Ele consta apenas na lista do passado: sétimo maior produtor de veículos a combustão. Ultrapassados. Praticamente nenhum líder de montadora instalada no País afirma que aqui produziremos veículos elétricos. Nem baterias. Nem nada ligado a essa cadeia. A indústria automobilística, e sua rede de suprimentos, transformou o Brasil numa das menos de quatro dezenas de nações do planeta que produzem automóveis. A partir de agora está claro que nos tornaremos apena mercado consumidor. Uma plataforma de receber-montar-entregar. Esqueça tecnologia proprietária. Esqueça inovação. O nome disso pede um neologismo, ou uma nova expressão. Usarei primitivismo industrial. Bem-vindo ao Brasil do futuro: aquele país que era apenas produtor de café (chame de agrobusiness, hoje) e importador de qualquer coisa de valor agregado. Um primata da economia global.