Existem aniversários que marcam não apenas o aniversariante. É daqueles que todos querem fazer parte da festa. De certa forma, é isso que vai acontecer com a AWS-Amazon Web Services no Brasil na terça-feira (14), dia em que a operação por aqui comemora seu décimo ano — nos Estados Unidos o serviço nasceu há 15. “Somos uma solução onipresente. Por isso, nosso cliente vai literalmente de A a Z, do pequeno bistrô ao grande banco”, afirmou à DINHEIRO Cleber Morais, que desde a metade de 2018 lidera a operação brasileira. A entrevista aconteceu na terça-feira (30), 70 horas depois do título da Libertadores vecido pelo Palmeiras, time que tem em Morais um torcedor fanático. Comentei que foi uma conquista dura. “Dura e de muito aprendizado em relação a humildade, dedicação e, principlmente, estudo.” Para ele, por trás do que aconteceu na Libertadores há uma mensagem importante e conectada ao mundo empresarial. Morais afirma que sem qualquer exceção de segmento ou porte de empresa, o universo corporativo deve trabalhar de forma inexorável com dados. Estudar, planejar e usar a informação garimpada como diferencial competitivo. Nem os esportes estão imunes à tecnologia e ao uso intensivo de inputs. “Dados são insumos para qualquer companhia.”

E aí entra a nuvem. Ela está por trás desde a comida entregue pelo iFood à transação de internet banking. Da aula remota de um aluno a quem decidiu assistir na Netflix à recém-lançada série portuguesa Gloria do Ribatejo. É dessa onipresença que fala Morais. Os números brasileiros não são abertos pela empresa, mas globalmente a AWS faturou em 2021 (nos primeiros três trimestres) US$ 44,4 bilhões, 36% acima do mesmo período de 2020. Volume que já representa 13% do consolidado global de toda a Amazon. Em receita operacional, a AWS fez US$ 13,2 bilhões, 33% sobre os primeiros nove meses do ano passado — cifra responsável por 62% do resultado de todas as frentes da Amazon. O que move números dessa grandeza é um mantra pelo qual Morais é o principal guardião: a obsessão pelo cliente. Um foco que ninguém na empresa pode abrir mão. “Na pandemia, montamos squads e entregamos relatórios para mais de 500 parceiros, o que permitiu redução de custos de 20% a 50% para eles.”

DORES Paulo Cunha, o PaCu, é head de Setor Público na AWS para a América do Sul. Ele diz que as principais dores dos clientes ao buscar soluções em nuvem são quatro. A primeira é a agilidade. PaCu cita um exemplo aleatório, comum a toda empresa: uma área necessita de determinada solução computacional. “O pessoal do datacenter vai pedir 90 dias até chegar um novo servidor, ou 120 agora, com a falta de componentes. Outros 30 dias para acertar software. Quando você for ver, são 150 dias”, disse. “Na nuvem, conseguimos em 10 minutos.” Depois de agilidade, o segundo motivo é escalabilidade, quando é preciso sair rapidamente de um patamar baixo de demanda para picos. Na sequência vêm segurança e custos. “Você não tem o capex inicial, e seu opex está diluído”, afirmou PaCu.

CLEBER MORAIS Líder da operação brasileira da AWS diz que uso intensivo de dados é mais que diferencial competitivo, é insumo para todas as empresas. (Crédito:Claudio Gatti )

Um dos clientes parceiros da AWS é a Ânima Educação, com 320 mil alunos e 18 mil educadores (entre colaboradores e professores), espalhados por instituições de ensino das mais diversas bandeiras. São culturas, cursos, estudantes e professores de múltiplos perfis. Operação complexa que exige controle e gestão. Patrícia Fumagalli é vice-presidente de Transformação Digital do grupo e diz que não há mais como separar os dois universos, o mundo do ensino do ambiente digital. “A tecnologia passa a ser componente indissociável do core do negócio, da educação”, afirmou.

Entre as soluções costuradas com a AWS está o Ecossistema Ânima de Aprendizagem, decisivo na experiência dos alunos. O corpo de estudantes já tinha contato com aulas a distância, mas evidentemente tudo se acelerou com a pandemia. O que era um pedaço da carga horária virou 100%. “Estar em nuvem foi fundamental para ganhar escala, quando a gente virou a chave em março do ano passado”, disse Patrícia. “Temos orgulho de dizer que nossos alunos não ficaram nem um dia sem aula.”

FINTECH Agilidade, escalabilidade e segurança são igualmente decisivos na operação da Smiles. Com quase 18 milhões de participantes, a empresa estendeu a atuação do segmento de programas de fidelidade para se posicionar também como plataforma líder no setor de viagem & turismo. Luiz Borrego, seu CIO & Inovação, diz que a companhia é tanto um e-commerce quanto uma fintech, “pois fazemos a guarda de milhas, que é a moeda de nosso consumidor”. Isso exige, segundo ele, altos níveis de controle, segurança e compliance, comparados aos de um banco digital.

Para Borrego, há uma necessidade adicional. “Somos um negócio sazonal”, afirmou. “Em uma Black Friday, por exemplo, transacionamos quatro vezes mais do que num dia normal.” É o tipo de desafio cotidiano de PaCu na AWS. “Hoje, pelo menos 90% de nossos serviços vêm de problemas que os clientes trazem”, disse. Não existe necessariamente uma resposta de prateleira. “Mas temos total interesse em construir essa solução.” O lema ‘cliente-antes, dinheiro- depois’ pode parecer a outros executivos uma narrativa descolada da realidade. PaCU responde. “Temos 14 Princípios de Liderança, e eles começam com a obsessão ao cliente. O 14º é entrega de resultados, que é consequência. Essa é a lógica do processo.”

PaCu até sugere a leitura do recém-lançado livro Working Backwards, de Colin Bryar e Bill Carr, dois ex-vice-presidentes da Amazon. Eles narram os princípios e boas práticas que movem a corporação, cujo valor de mercado na quinta-feira (2) era de US$ 1,7 trilhão. No caso da AWS, e em especial da operação brasileira, há uma meta clara movendo a jornada: ser um player transformador. Cleber Morais, líder da companhia por aqui, diz que o cloud é um grande habilitador de negócios. “Por isso, esses dez anos são motivo de celebração”, afirmou. Na corporação, tempo carregado de nuvens é sinônimo de boa notícia. “A nuvem muda a história. De uma empresa. De uma pessoa. De uma sociedade.”