Muita gente no governo deve estar amaldiçoando o dia em que foi decidido que a diretoria de Participações da Previ (a que concentra mais poder no fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) teria o titular escolhido pelo voto direto dos 118 mil associados. O primeiro eleito, Sérgio Rosa, presidente da Confederação Nacional dos Bancários, é um petista típico, daqueles que gosta de questionar privatizações, consultar bases e cobrar explicações. Uma virada na rotina do maior investidor institucional do País ? dono de um cofre de R$ 32 bilhões ?, habituado a negócios decididos em salas fechadas.

DINHEIRO ? O PT é contra a privatização. Vocês vão tirar a Previ dos leilões?
SÉRGIO ROSA ? Nós achamos que a privatização fragiliza a economia. Para a Previ, que não pode investir fora do País, isso pode afetar lá na frente o espaço para investimentos. Mas não quero dizer que estamos fora das privatizações, nem que vamos participar de todas. Se houver a possibilidade de investir numa empresa pública e ter um contrato de gestão, que garanta retorno do investimento, pode ser uma alternativa. Uma parceria que não implique a alienação do patrimônio público.

DINHEIRO ? Mas quem define o modelo são os governos…
SÉRGIO ROSA
? Acho que a Previ, como investidora, pode propor opções. Há a experiência da Ceterp, em Ribeirão Preto, que na gestão do PT trouxe parceiros sem alienar o controle. Mas, se algumas privatizações ocorrerem de qualquer forma, nos dispomos a analisar se é um bom negócio para a Previ.

DINHEIRO ? A Previ tem tido quase sempre os mesmos parceiros nos leilões, como Bradesco, Inepar, Opportunity, La Fonte. Como você vê essa repetição?
SÉRGIO ROSA
? No Brasil há poucos grupos com capital e com interesse para disputar empresas. Destacam-se esses grupos. São parcerias naturais. Em alguns casos eles possibilitaram a formação de consórcios que mantiveram empresas sob o capital nacional.

DINHEIRO ? Ter parceiros nacionais é uma preferência?
SÉRGIO ROSA
? É. Precisamos de empresas nacionais fortes nas quais a gente possa ancorar nossos investimentos. Mas há casos em que a Previ está buscando sócios internacionais em algumas empresas, como a Embraer. São parcerias estratégicas. Não temos preconceito contra parceiros internacionais que tragam tecnologia e mercado.

DINHEIRO ? O que significa a entrada de gente do PT na diretoria?
SÉRGIO ROSA
? Vamos ter poder de fiscalização e de opinar sobre os investimentos, e vamos exercê-lo. O que pretendemos mudar é que muitas decisões são tomadas sem o conhecimento dos associados. Veja o projeto de Sauípe. Se a Previ investiu R$ 200 milhões, tem que ter uma avaliação. Eu não seria precipitado a ponto de dizer que foi errado, mas tem que ter um estudo técnico e tem de escutar o associado, para não enfiar no meio dos investimentos negócios sem justificativa sólida. Seria um anteparo a pressões políticas indesejáveis. O envolvimento da Previ na privatização da Telebrás deixou claro que há pressões sobre o fundo para que se façam negócios não justificáveis.