A empresa de plano de saúde Prevent Senior teria feito um acordo com o governo federal para promover a venda de hidroxicloroquina e azitromicina, dois medicamentos cuja eficácia contra covid-19 não tem comprovação científica. A denúncia partiu de um grupo anônimo de médicos da empresa, que enviou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 um dossiê com as provas da acusação. A GloboNews teve acesso aos documentos.

Para legitimar as vendas e o acordo com o poder público, o convênio teria falsificado um estudo que indica a eficácia das drogas no tratamento contra o coronavírus. A pesquisa, que começou a ser feita em 25 de março deste ano, teria sido manipulada com a omissão de sete mortes de pacientes testados com os medicamentos – apenas dois óbitos são citados.

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“Iremos iniciar o protocolo de hidroxicloroquina + azitromicina. Por favor, não informar o paciente ou familiar sobre a medicação e nem sobre o programa”, diria o diretor da Prevent Senior, Fernando Oikawa, em mensagem publicada pelo WhatsApp, segundo o documento obtido pela reportagem da Rede Globo.

A pesquisa foi citada no Twitter do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em 18 de abril. “Segundo o CEO Fernando Parrillo, a Prevent Senior reduziu de 14 para 7 dias o tempo de uso de respiradores e divulgou hoje, às 1h40 da manhã, o complemento de um levantamento clínico feito: de um grupo de 636 pacientes acompanhados pelos médicos, 224 NÃO fizeram uso da HIDROXICLOROQUINA. Destes, 12 foram hospitalizados e 5 faleceram. Já dos 412 que optaram pelo medicamento, somente 8 foram internados e, além de não serem entubados, o número de óbitos foi ZERO. O estudo completo será publicado em breve”, postou o presidente.

Outros estudos científicos não sustentaram a eficácia da hidroxicloroquina contra a Covid-19, restando apenas o estudo da Prevent Senior. Essa pesquisa foi aprovada mas depois suspensa pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) por ter iniciado antes de sua aprovação legal.

Prevent Senior nega acusações
Os documentos foram enviados à CPI da Covid-19. O diretor executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Junior, não compareceu nesta quinta (16) para depor. Seus advogados alegam que foram notificados oficialmente em um tempo menor do que as 48 horas mínimas exigidas pela lei.

A CPI avalia pedir a condução coercitiva de Batista Junior, mas sua defesa alega que não houve recusa em comparecer à CPI. Nesta quarta (15), o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o diretor da Prevent Senior a permanecer em silêncio durante a sabatina da CPI.

“A Prevent Senior vai pedir investigações ao Ministério Público que apure (sic) as denúncias infundadas e anônimas levadas à CPI por um suposto grupo de médicos. Estranhamente, antes de as acusações serem levadas à comissão do Senado, uma advogada que representa esse grupo de médicos insinuou que as denúncias não seriam encaminhadas se um acordo fosse celebrado. Devido à estranheza da abordagem, a Prevent Senior tomará todas as medidas judiciais cabíveis”, postou a empresa em seu Instagram.

CPI
A convocação de Batista Junior foi uma alternativa à convocação de Danilo Trento, executivo da Precisa Medicamentos, que teria superfaturado um contrato de compras da vacina indiana Covaxin. Como não foi localizado para ser intimado a depor, a CPI optou por chamar Batista Junior.

A CPI investiga uma eventual pressão para que médicos da Prevent Senior fossem pressionados a prescrever medicamentos do chamado “tratamento precoce”. O requerimento à convocação de Pedro Batista Junior partiu do senador Humberto Costa (PT-PE), que diz ter recebido denúncias de pacientes da Prevent Senior que teriam sido assediados para tomar as drogas ineficazes.

O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, diz que “a Prevent Senior ocultou mortes em estudo, prescreveu ‘kit covid’, assediou clientes pelo uso de remédios ineficazes”.

Já o senador Randolfe Rodrigues afirma que “o documento informa que a disseminação da cloroquina e outras medicações foi resultado de um acordo entre o governo Bolsonaro e a Prevent. Ouvir a Prevent continuará em nossa agenda”.