A pressão de alta exercida pela ata do Copom nos juros nesta terça-feira perdeu um pouco de força à tarde, com a ajuda do novo pacote de medidas do governo e com correções técnicas de investidores que tinham reduzido posições vendidas pela manhã, mas voltaram a aplicar no fim do dia. As taxas fecharam perto da estabilidade nos trechos curto e longo, e com leve alta no miolo da curva. Em linha com o que já havia trazido o comunicado, a ata reforçou a sinalização de corte da Selic em 0,5 ponto porcentual em dezembro, mas deixou em aberto as próximas decisões.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021, que chegou a bater a máxima de 4,56%, fechou a sessão regular a 4,490% e a estendida em 4,51%, de 4,489% na segunda no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 5,421% para 5,47% na regular e 5,50% na estendida. O DI para janeiro de 2025 encerrou a regular com taxa de 6,02% e a estendida em 6,05%, de 5,991%. O DI para janeiro de 2027 encerrou a regular estável em 6,34%, longe da máxima de 6,41%. Na estendida, fechou em 6,39%.

A terça-feira foi de agenda carregada pela ata de manhã e pelo detalhamento do pacote à tarde. Em linhas gerais, a ata aprofundou a mensagem do comunicado e a intenção do Banco Central de recolher apostas mais agressivas sobre o ciclo da Selic. “Não trouxe grandes novidades em relação ao que foi passado pelo comunicado, reforçando apostas em Selic a 4,5% no fim de 2019, mas esvaziando a probabilidade da taxa básica de juros terminar o ciclo de cortes abaixo dos 4,0% no início do ano que vem”, disseram os economista da Guide Investimentos, em relatório.

Desse modo, a curva manteve a precificação de Selic em 4,35% ao encerramento do ciclo de ajuste monetário, que já aparecia desde o comunicado do Copom. Ou seja, as apostas seguem concentradas entre 4,25% e 4,50%. Para dezembro, a precificação é de queda de 44 pontos-base, ou 75% de chance de corte de 0,5 ponto e 25% de possibilidade de redução de 0,25 ponto. Os cálculos são do Haitong Banco de Investimentos.

Uma das casas que estavam mais otimistas sobre o ciclo da Selic, a Itaú Asset Management, revisou sua projeção de taxa básica. Agora, projeta que o juro chegará ao fim do ano em 4,50% (ante 4,00% anteriormente) e ao encerramento de 2020 em 4,25% (de 3,75%).

Para os analistas, a ata mostrou que o BC tem dúvida sobre o canal de transmissão da política monetária neste momento em que o papel do Estado para fomentar o desenvolvimento vai diminuindo para dar lugar ao setor privado como fomentador do crédito. “Os dados de atividade indicam melhora e que deve acontecer de forma sustentada, já que vem em bases mais sólidas e com dinamismo de acordo com as forças de mercado”, disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho Luciano Rostagno.

À tarde, na medida em que o noticiário era dominado pelo pacote do governo, a pressão de alta nas taxas foi diminuindo. O “Plano Mais Brasil – A Transformação do Estado”, inclui a PEC emergencial, a do Pacto Federativo e dos Fundos Públicos. O conteúdo das propostas para melhorar a solvência fiscal do Estado ficou dentro do esperado, mas a “forma” como as propostas foram acolhidas pelo Congresso animou os investidores, com reflexos especialmente na ponta longa. “A receptividade do Congresso foi muito boa. Ao que tudo indica, os parlamentares se mostram dispostos a avançar, falando em aprovar nas duas casas até abril de 2020”, disse Rostagno. A proposta foi entregue pessoalmente pelo ministro Paulo Guedes e pelo presidente Jair Bolsonaro ao Senado.