O presidente do movimento Transforma Brasil, Fábio Silva, foi o convidado da live da IstoÉ Dinheiro nesta quinta-feira (03). A organização que ele dirige tem como objetivo estimular o voluntariado e o engajamento cívico no País. Sob a supervisão, a parceria ou a administração da entidade, mais de três mil projetos e iniciativas sociais estão espalhados pelas comunidades mais carentes do Brasil, beneficiando mais de um milhão de pessoas.

Na conversa com a editora e colunista de Sustentabilidade da revista, Lana Pinheiro, Silva analisa o empreendedorismo social no Brasil. Mais que isso. Ele apresenta o “setor 2,5” – o meio de caminho entre o segundo setor (empresas com fins lucrativos) e o terceiro (organizações sem fins lucrativos). Ao fim e ao cabo, um segmento considerado emergente e inovador da economia mundial. “O empreendedorismo social acredita que o capital e o social podem caminhar juntos.”

Para Silva, este sistema híbrido é uma solução eficiente e sustentável para gerar valor para a sociedade como um todo. Ele diz que não é mais utopia, mas uma necessidade, imaginar projetos rentáveis, que invistam seus lucros exclusivamente e integralmente com o propósito de erradicar impactos adversos causados pela pobreza.

Apesar de ter como atividade principal favorecer as pessoas com menor renda visando o impacto social, o “2,5” diferencia-se das ONGs por suas atividades serem rentáveis e não dependerem exclusivamente de doações ou de outros subsídios.

Esses negócios possuem a capacidade de ampliar seu alcance e de serem replicados facilmente. “Existe um movimento muito grande do empresariado querer trazer sentido e causa para os negócios”, diz.

Antes de ingressar no terceiro setor, Silva era um bem-sucedido CEO da empresa da família, uma rede nacional de consultórios odontológicos, liderados pelo pai e irmão, que são dentistas. “Me reinventei completamente. Sou empreendedor social como profissão”, diz.

O ato de ajudar o próximo falou mais alto no peito do presidente do Transforma Brasil. Ele criou uma plataforma que atua em 26 frentes como cultura e arte, combate à pobreza, igualdade de gênero, ações emergenciais, dependentes químicos, proteção animal e inclusão. A organização soma mais de 200 mil brasileiros cadastrados e quase três milhões de horas de trabalho voluntário em seu “voluntariômetro”.

No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 4,3% da população pratica algum trabalho voluntário, mesmo que de maneira individual. Um número bem menor do que de países como os Estados Unidos, onde pelo menos 20% da população é comprometida oficialmente com ações voluntárias.

O número brasileiro não intimida a turma de Silva. Para ele, as pessoas querem dedicar parte do seu tempo a alguma causa ou propósito, mas falta uma espécie de ‘cardápio’ de opções e incentivo para mudar o quadro. “Faltam perguntas não ditas. Quem já tem o desejo de se dedicar voluntariamente a alguma instituição vai saber onde pode ser útil e ter benefícios para fazer isso”, diz Silva.

O olhar de Silva mira a base da pirâmide social mas não deixa de focar o andar de cima. O Transforma é uma plataforma de voluntariado que conecta quem quer ajudar e quem precisa de ajuda. A ideia é promover a geração de emprego e renda e assim mitigar os efeitos econômicos negativos gerados pela desigualdade social. “É o Tinder do bem”, avalia.

Durante a entrevista, ele avalia que as consequências da pandemia do coronavírus, além de arruinar empregos e negócios, mostrou a realidade social do País e que a desigualdade entre os estratos populacionais, com milhões em situação de vulnerabilidade, é, de fato, um abismo gigante a ser combatido. É para essa população que o Transforma Brasil une esforços.

Segundo Silva, a entidade dirigida por ele intensificou suas ações durante a crise sanitária da covid-19, captou R$ 31 milhões em três meses e auxiliou mais de 410 mil famílias através de 3.000 projetos sociais em todo País. “É uma mudança de cultura.”

Silva pilota várias iniciativas. Ele também é presidente do Porto Social – primeira incubadora e aceleradora de ONGs no País – e também idealizador do Movimento Novo Jeito e do Instituto Fábrica do Bem.

O Porto Social surgiu para incubar e acelerar gratuitamente ideias e iniciativas sociais em fase inicial ou já em operação, gerando, a partir desses projetos, um catálogo de soluções para governos, empresas e associações do terceiro setor. Em quatro anos, o Porto Social incubou várias turmas, totalizando 150 projetos e 450 empreendedores sociais.

O programa dura um ano e oferece palestras, cursos e mentorias individuais. Seis eixos estruturam os conteúdos: ecossistema social, propósito, gestão de negócios de impacto, gestão de pessoas, sustentabilidade financeira e comunicação.

A ideia deles é pegar alguém que “queira mudar o mundo”, um segmento, uma causa, e acelerar. Ou então pegar um projeto já formalizado para profissionalizá-lo, ajudando a captar recurso, a se organizar juridicamente e contabilmente. “Quem faz trabalho voluntário carrega um conjunto de valores que as empresas querem, porque sabem trabalhar coletivamente”, avalia.

Formado em administração de empresas, com MBA em gestão empresarial pela Fundação Getulio Vargas (FGV), pós-graduação em planejamento estratégico pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie e mestrado em Teologia, Silva abomina a relação dos extremos que a sociedade brasileira vem vivendo. “A polarização atrapalha o Brasil”, afirma.

Ele diz que tem um relacionamento muito forte com o poder público sem ambicionar poder político partidário, ou seja, sem cunho eleitoral. Citando Gandhi, ele conclui que “nós somos a mudança que queremos ver no mundo”.