O presidente ucraniano visitou nesta quinta-feira a linha de frente do conflito com os separatistas pró-Rússia, onde os combates aumentam, e recebeu o apoio de Berlim, que pediu ao Kremlin para reduzir sua presença militar na fronteira com a Ucrânia.

A chanceler alemã, Angela Merkel, pediu ao presidente russo, Vladimir Putin, que retirasse suas tropas durante uma conversa por telefone. Um pedido ao qual Moscou não respondeu.

O chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky, vestiu o uniforme militar, colete à prova de balas e máscara antivírus para passar em revista as tropas nas trincheiras da região de Lugansk, cenário de confrontos recentes, segundo imagens e um comunicado divulgado pela Presidência ucraniana.

“É uma honra para mim estar aqui”, disse ele, entregando condecorações aos soldados e elogiando o “heroísmo e dedicação” dos militares, mas sem renovar suas recentes acusações sobre as intenções belicosas da Rússia.

Kiev e o Ocidente criticaram nos últimos dias Moscou por ter concentrado tropas na fronteira ucraniana e na Crimeia – anexada pela Rússia -, enquanto os incidentes armados mortais com separatistas pró-russos são quase diários.

O governo americano se declarou hoje “cada vez mais preocupado com a escalada recente de agressões russas no leste da Ucrânia”. Um militar ucraniano morreu hoje, elevando para 26 o número de militares que perderam a vida este ano, segundo o Ministério da Defesa. Em 2020, a Ucrânia perdeu 50 soldados na linha de frente, de acordo com a Presidência.

– Advertência russa –

A tensão foi assunto de uma conversa telefônica entre Vladimir Putin e Angela Merkel, cujo país é mediador, juntamente com a França, de um processo de paz na Ucrânia. Merkel “pediu-lhe que reduzisse a presença militar russa no leste da Ucrânia” para permitir uma desescalada, enquanto Moscou garante que os movimentos de tropas não são ameaçadores. Para Putin, Kiev “é responsável pelas provocações feitas recentemente para piorar deliberadamente a situação na linha de frente.”

O representante de Moscou nas negociações de paz, Dmitri Kozak, alertou que a Rússia poderia “ir em defesa” dos separatistas no caso de uma grande operação militar ucraniana, citando a proteção da população local para a qual Moscou distribuiu passaportes russos.

Ele estimou ainda que a entrada da Ucrânia na Otan “será o início do colapso” do país, reagindo ao pedido de Kiev para acelerar sua adesão à organização para enviar um “sinal” a Moscou.

A possível adesão da Ucrânia à Aliança Atlântica tem sido uma linha vermelha para a Rússia há muitos anos.

– Negociações em abril –

Apesar da tensão, Kozak anunciou negociações entre Kiev, Moscou, Berlim e Paris a nível de conselheiros políticos em 19 de abril.

Por sua vez, o Pentágono anunciou na semana passada que as forças americanas na Europa aumentaram seus níveis de alerta após “as recentes escaladas da agressão russa no leste da Ucrânia”. E o presidente Joe Biden garantiu a Zelensky seu apoio “inabalável”.

A guerra em Donbass começou em abril de 2014, na esteira de uma revolução pró-Ocidente na Ucrânia que também resultou na anexação da península da Crimeia por Moscou.

Este conflito deixou mais de 13.000 mortos e quase 1,5 milhão de deslocados.

A intensidade dos combates diminuiu amplamente após os acordos de paz de Minsk alcançados no início de 2015, mas o processo político não está avançando.

Para o Ocidente e Kiev, o apoio político, militar e financeiro da Rússia aos separatistas é óbvio, apesar das repetidas negações de Moscou.