Pronta para ser privatizada, a Companhia de Gás de Minas Gerais (Gasmig) está cheia de planos para expandir o uso do gás natural no Estado, mas tem esbarrado em uma concorrência desequilibrada com a Petrobras para atender os clientes mineiros, afirmou o presidente da Gasmig, Pedro Magalhães. Segundo ele, a estatal do petróleo quer fornecer o insumo para o segundo maior cliente da empresa, se beneficiando da presença ainda predominante nos gasodutos do País.

“A Petrobras quer pegar o segundo maior cliente nosso. Não tem problema para a Gasmig. Mas se ela quer ser vendedora livre em Minas Gerais, libera o gasoduto para a gente comprar em outras empresas e vender mais barato também, é só ter liberdade para passar no gasoduto”, disse Magalhães em entrevista online da agência especializada epbr, ressaltando que na próxima quinta-feira terá uma reunião com a Petrobras sobre o assunto.

O executivo disse que a Gasmig foi a primeira empresa a sentir os “ataques” da Petrobras, mas que outras podem sentir o mesmo problema no contexto da abertura do mercado de gás natural no País. A Gasmig programa uma chamada pública em agosto para compra de gás no mercado, mas, segundo Magalhães, este ano não tem esperança de adquirir o insumo de outra companhia que não seja a Petrobras.

“A Petrobras tem muita proteção de governo, do ministério, mas o governo de Minas Gerais também quer proteger a Gasmig. Acredito que a gente vai caminhar juntos. Já que pode baixar para vender para outros, porque não baixa o preço para a Gasmig também? Isso é até bom, porque quem sabe reduz preço para o Brasil todo?”, sugeriu.

Magalhães informou que o consumo de gás em Minas Gerais já voltou aos patamares pré-pandemia do covid-19, ajudado pelo fato das indústrias do estado serem de áreas beneficiadas pelos preços internacionais, como mineração e aço. Além disso, a empresa vem minimizando os aumentos de preço do insumo, como ocorreu com a alta de 39% aplicada pela Petrobras em maio.

“O gás residencial está congelado até fevereiro de 2022, e aumentamos o Gás Natural Veicular (GNV) em 23%, amenizando o aumento de 39% da Petrobras”, explicou.

Para aumentar as vendas da companhia, Magalhães aposta no segmento de caminhões pesados a gás natural, “um filão que queremos conquistar”, mas para isso será necessário a construção de um “corredor verde”, que garanta o abastecimento dos veículos ao longo da viagem.

“Temos projeto dos corredores verdes, que vão de Minas Gerais para São Paulo, Rio Grande do Sul e Bahia. É importante para Minas Gerais e para o Brasil, ou não vai ter combustível no meio do caminho”, destacou.

Outros projetos, como o Gás Ecológico, envolvem a troca de fontes poluentes por gás natural, como óleo, carvão ou lenha, em troca de reduções no pagamento do ICMS. Também está nos planos da Gasmig um investimento de R$ 700 milhões para levar gás até Divinópolis (MG), e de Poços de Caldas para Guaxupé, ambos também, em Minas.

“A Samarco também está fazendo um acordo com o governo (de Minas) para estender o gasoduto de Ipatinga até Governador Valadares. Ao todo seriam mil quilômetros de gasoduto, cerca de 10% do que o Brasil tem hoje (9 mil Km)”, informou.

Segundo o executivo, a empresa está pronta para entrar na B3, mas a abertura de capital depende da decisão do governo, por meio da Cemig, distribuidora estadual de energia elétrica, que controla a Gasmig, e ainda não foi decidido se a empresa será toda vendida ou apenas uma parte das ações vão para mercado.

“A Gasmig está pronta para ser privatizada, e quem se habilitar a ser sócio ou comprar, a empresa está prontinha, enxuta, e mesmo com a pandemia o porcentual de inadimplência é de 0,2%”, informou.

Depois de seis meses da aprovação da Lei do Gás, Magalhães torce para que o texto seja regulamentado o mais breve possível, e criticou a demora para que as regras que viabilizam a expansão do mercado de gás saia do papel. “Tem muita coisa para acontecer, mas o que foi anunciado há dois anos, que o grande projeto do governo era baixar o preço do gás, não aconteceu”, observou.

Para ele, o mais urgente é a publicação das normas para transporte de gás pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), liberando os gasodutos. “Quando você tem uma chamada pública, as empresas não estão fazendo propostas firmes, porque ninguém sabe o preço”, explicou. “O mercado só vai ser livre a partir desse momento”, completou.