O presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins da Silva Júnior, disse que o tabelamento instituído pelo acordo do governo com os caminhoneiros é “um retrocesso”, “inviabiliza” o setor e que “o bom senso não prevaleceu”, porque a tabela vai encarecer todos os produtos na mesa dos brasileiros. Depois de citar que o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, reconheceu, na noite de terça-feira, que a tabela precisa ser e será alterada, João Martins declarou: “Tem de rever a tabela senão a CNA vai tomar todas as medidas possíveis, até ir para a Justiça e questionar a legitimidade da tabela.”

Na tarde desta quarta-feira, 6, haverá duas novas reuniões no Palácio do Planalto com caminhoneiros, nas quais o assunto será tratado. O governo sabe que enfrentará grande resistência do movimento pela decisão contrária ao acordado durante a greve.

De acordo com o presidente da CNA, a decisão pelo tabelamento tomada durante a greve dos caminhoneiros levou em conta premissas apresentadas pelos caminhoneiros que “não são corretas”, como o prazo de renovação da frota e a troca de pneus com a periodicidade informada. “Um exemplo: o caminhoneiro colocou que de cinco em cinco anos há renovação de frota. Isso não é verdade. Um caminhão com dez anos é considerado novo. Eles falaram que o pneu é mudado de tanto em tanto tempo. Também não é verdade porque hoje o recapeamento é uma coisa que se faz com muita eficiência. Portanto, essa tabela tem de ser mudada e hoje vai sair um novo tabelamento”, avisou.

Ao falar da inviabilidade do negócio com a manutenção da tabela de frete, o presidente da CNA informou que, por causa dela, “houve parada total de embarque de grãos e de negociação de exportação”. Segundo ele, por conta desta tabela, na Bahia o frete para retirar fertilizante do porto de Salvador subiu de R$ 170 para R$ 240 (por tonelada) e (o frete) na venda de algodão da Bahia para o Ceará subiu de pouco mais de R$ 200 para R$ 405.

“O bom senso não prevaleceu ao estabelecer esta tabela”, disse ele, ao lembrar que, quando houve a greve, fez um pronunciamento dizendo que não era contra os caminhoneiros, mas que o bom senso precisava prevalecer. “O bom senso é que seja bom para os dois lados. Não pode ser bom só pro caminhoneiro e ruim para o produtor porque, no final, isso tudo ia encarecer o alimento do brasileiro, ia ter aumento da hortifruticultura, até carne, leite, tudo. Não é só exportação”, comentou.

João Martins pediu, ainda, que o seguro para a agricultura aumente de R$ 600 milhões, que só cobre 10% da produção, para pelo menos R$ 1,2 bilhão do seguro-safra. “Precisávamos de pelo menos 20% de cobertura”, disse ele, justificando que, se o setor tiver seguro, os produtores não vão precisar de tantos recursos do governo para financiamento, mas podem buscar outras fontes de recursos. “Seguro é instrumento de modernização da agropecuária brasileira”, completou.