O presidente chinês Xi Jinping afirmou que Hong Kong “renasceu do fogo” ao iniciar nesta quinta-feira (30) una visita para as celebrações do 25º aniversário do retorno da ex-colônia britânica ao poder comunista de Pequim.

“No período passado, Hong Kong passou por mais de um teste sério e superou mais de um risco e desafio. Depois das tempestades, Hong Kong renasceu do fogo e emergiu com uma vitalidade robusta”, declarou Xi, em sua primeira visita ao território desde a repressão violenta a um movimento pró-democracia.

“Os fatos demonstraram que o princípio ‘um país, dois sistemas’ está repleto de vitalidade”, acrescentou Xi, que também faz sua primeira viagem fora da China continental desde o início da pandemia de covid-19 em dezembro de 2019.

Acompanhado por sua esposa Peng Liyuan e pelo ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, Xi Jinping, que fez a viagem em um trem de grande velocidade, foi recebido na estação por estudantes com bandeiras e flores, dançarinos vestidos de leões e alguns jornalistas credenciados.

Os detalhes da viagem permaneceram em segredo e a visita provocou um grande esquema de segurança.

As autoridades locais entraram em um sistema de bolha sanitária contra a covid, partes da cidade foram fechadas e vários jornalistas foram vetados dos eventos de comemorativos na sexta-feira, que têm o objetivo de mostrar o controle do Partido Comunista sobre a cidade depois da repressão política e do desmantelamento do movimento pró-democracia.

As pessoas que se encontrarão com Xi durante a viagem, incluindo funcionários de alto escalão do Executivo, tiveram que limitar seus contatos sociais, fazer testes diários de PCR e entrar em um hotel de quarentena antes da visita.

As autoridades se esforçaram para evitar qualquer possível contratempo durante a visita de Xi e a força de segurança anunciou pelo menos nove detenções durante a última semana.

A Liga dos Social-Democratas, um dos poucos grupos de oposição que resistem em Hong Kong, informou que não vai organizar manifestações em 1º de julho após uma visita de agentes da Segurança Nacional a voluntários associados à entidade.

E o principal instituto de opinião pública da cidade anunciou o adiamento de uma pesquisa sobre a popularidade do governo “em resposta às sugestões de departamentos governamentais após a avaliação do risco”.

Tradicionalmente, o aniversário da devolução, que aconteceu em 1º de julho de 1997, é marcado por manifestações pacíficas de dezenas de milhares de pessoas.

Mas as grandes aglomerações desapareceram de Hong Kong nos últimos anos devido à combinação das restrições sanitárias pela pandemia de coronavírus e à repressão orquestrada por autoridades locais e Pequim para reprimir qualquer oposição pública ao regime comunista.

– Bandeiras –

As autoridades restringiram a cobertura da imprensa e impediram a presença de vários jornalistas nos eventos programados.

A AFP confirmou na quarta-feira que credenciais foram recusadas para 13 jornalistas locais e estrangeiros, incluindo dois profissionais da Agence France-Presse, vetados por “razões de segurança” não especificadas, segundo uma fonte do governo. Um terceiro jornalista da AFP conseguiu posteriormente o credenciamento.

A Associação de Jornalistas de Hong Kong expressou “profundo pesar” com os vetos e afirmou que as exigências de quarentena e testes de covid para os repórteres dificultavam a substituição dos profissionais.

O governo justificou a decisão como “um equilíbrio na medida do possível entre as necessidades de trabalho da imprensa e os requisitos de segurança”.

A polícia anunciou amplos bloqueios nas estradas da ilha de Hong Kong e proibiu temporariamente o uso de drones em toda a cidade, alegando motivos de segurança.

Algumas áreas da cidade também foram fechadas, incluindo o terminal de trens de alta velocidade, uma casa de ópera chinesa e o Parque de Ciências de Hong Kong.

Vários trabalhadores do complexo científico explicaram à AFP que não receberam nenhum aviso sobre a visita de Xi, mas que receberam ordens para trabalhar de casa na quinta-feira.

Em uma tentativa de encenar apoio público à visita, a cidade está cheia de bandeiras da China e de Hong Kong, que decoram dezenas de prédios residenciais.

Em um deles, um morador de 26 anos de sobrenome Chan reclamou das pequenas bandeiras penduradas em cada andar das escadas. “É desnecessário e excessivo”, disse à AFP.

Outro morador, Tony, disse que teria sido melhor se tudo tivesse sido organizado de maneira voluntária pelos moradores.

“Abraçamos tanto essa ideologia?”, perguntou à AFP. “As pessoas podem sentir rejeição… se for feito de forma exagerada”, disse.