O agravamento da pandemia do novo coronavírus nos Bálcãs, apesar dos números aparentemente modestos, preocupa cada vez mais esta região pobre da Europa com infraestruturas médicas frágeis.

Devido ao cenário, vários países europeus estabeleceram ou decidiram manter as restrições de viagens para búlgaros e romenos, com quarentena 14 dias ou teste negativo obrigatório na chegada.

Na Sérvia, a situação é “pior que em abril, sobretudo em Belgrado, onde o sistema de saúde está saturado”, advertiu o epidemiologista Predrag Kon, membro da célula de crise do país, que anunciou 18 mortes na sexta-feira, recorde diário.

A gestão da pandemia pelo governo provocou manifestações no país.

O presidente do sindicato de profissionais da saúde no vizinho Kosovo, Blerim Syla, alertou que sem a adoção de medidas o pequeno território de 2 milhões de habitantes “se transformará na Wuhan dos Bálcãs” e prevê um “colapso do sistema de saúde”, que já é deficiente.

A Croácia, membro da União Europeia, parece menos vulnerável e a situação é estável, mas os casos aumentaram com o início da temporada turística.

Os números (8 mortes na sexta-feira em Kosso, 500 novos casos na Bósnia em 6 de julho, 700 na Romênia no dia 11) ligaram o sinal de alerta da comunidade internacional para a região, onde durante a onda de contágios da primavera (hemisfério norte) a pandemia matou menos de 3.500 pessoas no total.

Porém, da Romênia à Albânia, passando por Kosovo, Bósnia e Bulgária, os recordes se sucederam na semana passada: tanto no número de mortes diárias como de novos casos. Em 10 de julho, segundo um balanço da AFP, estes países somaram 15% dos novos casos detectados no dia na Europa, embora representem menos de 7% da população.

Os sistemas de saúde dos países da região não parecem equipados para enfrentar uma propagação da epidemia como a que afetou parte da Europa nos últimos meses.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Itália tem 4,1 médicos para cada 1.000 habitantes, enquanto a Albânia tem 1,2 (menor taxa da Europa), a Bósnia 2 e a Romênia 2,2. Kosovo, de acordo com Blerim Syla, tem um déficit de 5.500 profissionais da saúde.

A desconfiança a respeito dos políticos e a instabilidade crônica na região não ajudam.

Em Kosovo e na Macedônia do Norte, o país dos Bálcãs com mais mortes em proporção a sua população (176 para cada milhão de habitantes), os governos são frágeis.

O presidente sérvio Aleksandar Vucic paga o preço de ter proclamado vitória sobre o vírus antes das eleições gerais. Durante a semana, ele anunciou o retorno do confinamento para sábado e domingo, mas se viu obrigado a recuar após os protestos nas ruas.

Muitos especialistas consideram que os Bálcãs decretaram o fim do confinamento muito cedo e de forma radical, o que repercutiu nos comportamentos.

Na Sérvia, os bares e boates reabriram as portas como se nada tivesse acontecido e algumas pessoas voltaram a apertar as mãos nos cumprimentos. Os ortodoxos macedônios foram autorizados a respeitar a tradição da comunhão da Páscoa com a distribuição de vinho em uma colher de chá.

“A falta de respeito às regras de distanciamento social fomenta um grande nível de transmissão do vírus, que se manifesta de forma mais agressiva”, adverte Eugena Tomini, do Instituto Albanês de Saúde Pública.