Papéis avulsos

Os acionistas da BRF começaram o carnaval com um espírito de Quarta-Feira de Cinzas. No dia 1º de março, antes do início do tríduo momesco, a empresa presidida por Pedro Parente divulgou um prejuízo consolidado de R$ 4,44 bilhões, aumento de 295% em relação ao prejuízo de R$ 1,12 bilhão referente ao exercício de 2017. Segundo a companhia, a maior parte desse prejuízo, R$ 2,5 bilhões, veio de baixas contábeis por prejuízos com vendas de ativos na Argentina, na Europa e na Ásia. Além disso, a empresa informou que a greve dos caminhoneiros elevou as despesas em R$ 1 bilhão. “O ano de 2018 foi o mais desafiador da história de dez anos da BRF”, disse Parente ao comentar os resultados. A empresa de alimentos também está enfrentando decisões financeiras da gestão anterior. Em 2017, ela precisou vender ações, mas montou derivativos financeiros para apostar na alta dos papéis. Só que as cotações caíram e a companhia perdeu dinheiro.

 

Concessões

CCR firma acordo de leniência com MPF

A empresa de concessões rodoviárias CCR divulgou, na quarta-feira 6, um acordo de leniência de R$ 750 milhões com o Ministério Público Federal. Ficou acertado que sua controlada Rodonorte, que opera no Paraná, vai pagar multa de R$ 35 milhões, conceder desconto de R$ 350 milhões nos pedágios por pelo menos 12 meses e investir R$ 365 milhões em obras nas rodovias que administra. No ano, até a data da divulgação, as ações sobem 20,6%.

 

Touro x Urso

Após a euforia de janeiro, o mercado acionário mudou de direção em fevereiro e permanece na descendente em março. Até a quarta-feira 6, em um período abreviado pelo carnaval, o Índice Bovespa recuou 1,4% no mês. Com isso, a alta acumulada em 2019 recuou para 7,2% ante os 10,8% no primeiro mês do ano. Os ruídos de comunicação do governo deverão manter o mercado bastante volátil.

 

Quem não vem lá

Banco BMG desiste do IPO

O banco mineiro BMG informou, no dia 28 de fevereiro, que desistiu de realizar sua abertura de capital. O processo já havia sido adiado em dezembro do ano passado, citando condições adversas de mercado. Segundo analistas, o banco vinha esperando obter uma capitalização de mercado de R$ 2 bilhões por meio de uma emissão primária e secundária no nível I de governança corporativa, mas não encontrou investidores em número suficiente para conseguir fechar o negócio.

 

Destaque no pregão

Com aquisição, Sinqia lidera na previdência privada

Apesar de não pensar em se aposentar tão já, Bernardo Gomes, presidente da empresa de tecnologia Sinqia, só tem olhos para a previdência privada. No dia 28 de fevereiro, a empresa que desenvolve softwares para o mercado financeiro anunciou sua 12ª aquisição, a quarta no segmento de previdência privada. A compra visa ampliar o mercado de gestores de fundos abertos e fechados. “A mudança das regras, que permite que parentes dos participantes contribuam com os fundos, vai aumentar muito esse mercado”, diz Gomes. A Sinqia anunciou um faturamento consolidado de R$ 142,1 milhões em 2018, alta de 5,2% ante 2017. A necessidade de investimentos, porém, fez o lucro cair para R$ 2,7 milhões no ano passado, baixa de 63,5% em relação ao ano anterior. No ano, as ações sobem 20,1%.

Palavra do analista:
Para Luiz D’Aguiar, da Eleven Financial, a queda nos lucros era esperada pelo aumento dos investimentos, devido à necessidade de integrar as empresas adquiridas. A Sinqia investiu R$ 3,2 milhões no ano passado, ante R$ 700 mil em 2017. O analista recomenda a compra das ações.

 

 

Mercado em números

CSN
R$ 7,5 bilhões – É a estimativa da geração de caixa, medida pelo Ebitda, que a siderúrgica pretende atingir no fechamento do balanço anual de 2019.

COPASA
R$ 578 milhões – Foi o lucro líquido da empresa de saneamento de Minas Geral, alta de 3,2% em relação aos R$ 560 registrados em 2017

 

O número da semana

14,5%

foi a taxa de poupança doméstica, medida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), em 2018, segundo informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 28 de fevereiro. O número representa uma leve alta em relação aos 14,3% registrados em 2017, e uma melhora sensível em relação ao mínimo de 13,4% de 2016, o menor nível da série iniciada no ano 2000. No entanto, apesar das duas altas sucessivas, a poupança – que representa o excedente para o País poder financiar seu crescimento – ainda está longe do pico de 19,3% registrados em 2007. Para os economistas, apenas uma taxa de poupança consistentemente mantida ao redor de 20% poderá permitir um crescimento sustentável da economia brasileira.

 

 

Entrevista da semana

“Nossa proposta é ser o oposto da XP”

Tito Gusmão, fundador da gestora Warren

Por Lucas Bombana

Tito Gusmão foi um dos fundadores da plataforma de distribuição de produtos financeiros XP. Ele deixou a empresa em 2017 para fundar sua própria plataforma e gestora de recursos, ao lado de Marcelo Maisonnave, outro ex-sócio da XP. Hoje, a Warren já tem 50 mil clientes e prepara-se para distribuir produtos de terceiros.

A queda da Selic tem levado o investidor a buscar produtos mais arrojados?
O brasileiro não pode mais ser um investidor preguiçoso, com alocação só em renda fixa. Será preciso aumentar o risco via ações, e para isso ocorrer precisamos educar os investidores sobre esse mercado e sua volatilidade.

Qual o tamanho da gestora hoje?
Temos 50 mil clientes ativos e esperamos chegar a 100 mil em dezembro. Nesse período, esperamos elevar nossos recursos administrados dos atuais R$ 400 milhões para R$ 1,5 bilhão.

Qual o diferencial da Warren em comparação com outras plataformas?
Não cobramos taxas na venda dos nossos produtos. Na segunda quinzena de março, vamos começar a oferecer 150 fundos de diversas gestoras. Se recebermos algum desconto nas taxas, vamos repassá-lo integralmente ao cliente.

Como a Warren ganha dinheiro?
Cobramos dos clientes uma taxa de administração fixa anual de 0,8%.

Ao oferecer produtos de terceiros, a ideia é aplicar o modelo da XP no negócio?
Não. Nossa proposta é ser o oposto da XP. Ela oferece uma grande quantidade de fundos, o que obriga o cliente a conhecer o mercado. Aqui, o cliente responde algumas perguntas e, com base no que ele espera, montamos a carteira ideal para seu perfil. Além disso, não trabalhamos com assessores.

Por que não?
Como o assessor recebe uma comissão pelo produto vendido, nós consideramos que nem sempre há alinhamento com o cliente, o que provoca conflito de interesse. Posso falar disso com propriedade. Passei quase dez anos lá, no lado negro da força.