O prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), mandou pintar de cinza e bege todas as fachadas dos 150 prédios e casas da Rocinha, na zona sul, que ficam de frente para a Autoestrada Lagoa-Barra. Ao jornal O Estado de S. Paulo, moradores reclamam que, além de apagar o colorido típico da comunidade, a intervenção é, literalmente, de fachada, porque não resolve problemas reais, como esgoto ao ar livre, acúmulo de lixo e falta de iluminação. Sem falar da guerra entre facções e polícia que, há nove meses, trazem tiroteios à comunidade.

Em setembro, em visita à Rocinha, o prefeito disse que a comunidade precisava de “um banho de loja”, causando revolta entre moradores. “A ideia é que, quando passem pela Lagoa-Barra, as pessoas olhem para cá e tenham a ideia de uma comunidade arrumada, bonita, de um povo trabalhador”, disse o prefeito, em março, em entrevista à página Rocinha Alerta, de notícias da comunidade.

Para Ocimar Santos, da ONG Rocinha.org, há problemas muito mais sérios na comunidade. “Não vou dizer que um ‘banho de loja’ na fachada que está suja é ruim, mas não é prioritário.”

O jornalista Eduardo Carvalho, que mora na Rocinha, concorda. “Beira a ingenuidade, mas, na verdade, é preconceituoso pensar que precisamos do aval de quem passa pela Autoestrada para sermos considerados trabalhadores, para não sermos vistos como bandidos.”

A Prefeitura informou que a intervenção começou em 18 de março e faz parte de pacote mais amplo de melhoria. A pintura, orçada em R$ 1,2 milhão, deve durar ainda seis meses. “Não se trata apenas de embelezamento”, justificou a Secretaria Municipal de Urbanismo. “Atende a um pedido de ajuda dos moradores para reparar marquises e fachadas deterioradas com risco a pedestres.”