Trabalhadores e moradores da Vila Kennedy, na zona oeste do Rio de Janeiro, se indignaram hoje (9) com uma operação de ordenamento urbano da prefeitura. Quiosques e barracas localizados em uma praça foram derrubados mesmo sob protestos. Alguns comerciantes se arriscaram diante das máquinas para tentar salvar seus produtos.

A operação se deu num momento em que as Forças Armadas desenvolve ações na comunidade, que fica às margens da Avenida Brasil. O crime organizado instalado na Vila Kennedy vem sendo um dos primeiros alvos das ações de intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. Cerca de 1,4 mil militares vem sendo empregados em atividades rotineiras, que envolve cerco, estabilização dinâmica da área, reforço no patrulhamento ostensivo e retirada de barricadas.

De acordo com a prefeitura, os agentes que conduziram a operação identificaram 52 construções fixas irregulares, ocupando quase todo o espaço livre da praça e desrespeitando a Lei Orgânica do Município. Os comerciantes reclamam que a derrubada dos quiosques foi feita sem qualquer aviso prévio.

O episódio também repercutiu nas redes sociais. “Fui camelô durante dois anos na Vila Kennedy e a legalização da minha barraca e das 52 que foram encontradas com ilegalidades sempre foi uma utopia. Queremos resposta!”, escreveu Carol du Pré. O usuário Jefferson Xarutin manifestou apoio aos comerciantes. “Vergonhoso o que fizeram na Vila Kennedy. Os moradores precisando de luz e saneamento básico. O governo faz o que? Destrói as fontes de renda deles”.

Excessos

Após a repercussão negativa da operação, o prefeito Marcelo Crivella divulgou nota repudiando os excessos. Ele disse ter constatado que “houve uso desproporcional da força, atingindo também desnecessariamente trabalhadores”. O texto diz que, além das irregularidades no comércio, havia denúncias de atividades criminosas tais como venda de drogas e de carga roubada. Informa ainda que a operação foi um pedido da Polícia Militar, o que foi confirmado pela corporação.

Usando o seu perfil das redes sociais, a prefeitura do Rio de Janeiro afirmou que “foi determinado afastamento dos funcionários envolvidos”. Também informou que agentes “foram deslocados ao local para cadastrar os comerciantes para emissão de licença e posterior realocação em módulos padronizados”.

A Secretaria Municipal de Fazenda informou que será feito um sorteio para garantir a licença dos comerciantes interessados: “eles passarão a trabalhar em módulos padronizados, que garantem a organização do espaço público e o direito de todos os cidadãos que o frequentam”.

Em nota, o Comando Conjunto, que reúne as forças armadas e as agências federais envolvidas na intervenção, disse estava ciente da operação, mas que ela foi desenvolvida por iniciativa da própria prefeitura. “Eles aproveitam a estabilidade da área, fornecida pela presença das tropas, para ações de organização do espaço urbano”.