Um “cortiço”, com pessoas vivendo até no vão do elevador, é como a arquiteta Nadia Somekh lembra do Edifício Martinelli nos anos 1970. Se o imóvel e outros espaços do centro foram revitalizados anos depois, outros tantos prédios marcantes da história da cidade de São Paulo permanecem em condições de moradia precárias.

É o que ocorre, por exemplo, no entorno da Cracolândia e também em trechos menos valorizados da área central, caso do Edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou na terça-feira, após um incêndio. A tragédia do Largo do Paiçandu expôs essa realidade, resultando na criação de uma lista com 67 imóveis ocupados que passarão por vistorias. Do total, ao menos 13 são tombados, um está em processo de tombamento e 14 são áreas no entorno de bens protegidos pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo.

Desse total, três ocupações chegaram a ser consideradas em um programa habitacional da cidade em 2016, mas foram descartadas, dentre outros motivos pelo suposto alto investimento necessário. Elas são o Edifício Nazareth, na Praça da Sé, o prédio da Rua Xavier de Toledo, 150, e o antigo Hotel Columbia, todos no centro.

Na mesma rua em que desabou o Wilton Paes de Almeida na terça-feira há outro imóvel tombado sob ocupação – no caso, na Rua Antônio de Godói, 23 e 27. O roteiro das invasões em edifícios que fazem parte da história da cidade passa ainda por endereços da Avenida São João e das Ruas Conselheiro Crispiniano, 7 de Abril, Marconi, José Bonifácio, Glete, Conselheiro Ramalho. Há prédios tombados, ocupados e sob necessidade de vistoria técnica até na Praça da Sé, marco zero da capital.

Até a história dos desabrigados pela tragédia do Paiçandu resvala na história paulistana. Acampam na frente da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, construída em 1725, que trouxe mais público para o centro e obrigou a abertura de mais vias na área.

Resgate. O desafio é dar novos usos a esses espaços. Conselheira no Conpresp pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Marianna Al Assal aponta que, embora ocorra “nem sempre de maneira fácil”, a habitação em bens desse tipo une dois pontos complementares: o direito à cidade e o direito à memória. “O tombamento não significa um fim, mas uma possibilidade de pensar alternativas de uso”, aponta.

Para o professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) Lucio Gomes Machado, a recuperação desses imóveis é vantajosa e permite modificações internas. “O restauro é mais difícil de fazer, precisa de um bom projeto, só que a conta no final é mais barata”, garante. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.