Na manhã desta terça-feira (9), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho registrou a maior deflação desde o início da série histórica, em 1980. A redução dos impostos sobre combustíveis e energia provocou uma queda de 0,68% no IPCA, a primeira deflação mensal desde a retração de 0,38% registrada pelo índice em maio de 2020. Com isso, a inflação em 12 meses até julho retrocedeu para 10,03%, ante os 11,89% dos 12 meses até junho.

A baixa foi provocada pela retirada de impostos sobre os combustíveis. Os preços da gasolina caíram 15,48% e os do etanol, 11,38%. A gasolina, individualmente, contribuiu com o impacto negativo mais intenso entre os 377 itens que compõem o IPCA, com uma baixa de 1,04 ponto percentual. Além disso, também foi registrada queda no preço do gás veicular, com -5,67%.

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Os indicadores de prazo mais curto já vinham confirmado essa tendência. Na segunda-feira (9), a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou uma deflação de 1,13% medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) na primeira quadrissemana de agosto. A inflação acumulada em 12 meses caiu bastante, e recuou para 6,02% ante os 8,0% acumulados em 12 meses até a quadrissemana anterior.

Também no IPC-S o impacto maior ocorreu nos combustíveis, com as principais quedas ocorrendo no grupo Transportes. Os preços das passagens aéreas recuaram 25,75%, após terem caído 19,81% na quadrissemana anterior. Mesmo não sendo o item mais relevante da cesta de produtos e serviços do índice, a redução de preços das passagens foi tão intensa que alterou o percentual. E as tarifas de eletricidade residencial recuaram 5,13%, após terem baixado 3,81% na edição anterior do IPC-S.

Os especialistas já estão refazendo suas contas. A edição desta semana do Relatório Focus publicada pelo Banco Central (BC) na segunda-feira (8) mostrou uma queda nas projeções. A inflação prevista pelo IPCA para 2022 recuou levemente para 7,11% ante os 7,15% da edição anterior. A projeção para 2023 avançou levemente de 5,33% para 5,36%.

E a Ata da 248ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) indicou que a baixa dos preços dos combustíveis reduziu as expectativas oficiais para a inflação dos preços administrados. A estimativa para 2022 tornou-se negativa em 1,3%, ante os 7,0% da estimativa anterior. A projeção para a inflação administrada em 2023, porém, subiu para 8,4% ante os 6,3%.

Nesses pouco mais de dois anos desde a deflação de 2020, o IPCA só fez subir, pressionado pelas altas sistemáticas dos preços dos combustíveis e da energia, além dos preços dos alimentos. Agora, a redução pontual dos impostos sobre esses itens fez os preços baixarem. No entanto, as mudanças foram insuficientes para alterar os juros esperados. As expectativas para a Selic em dezembro se mantiveram estáveis em 2022 e 2023 ao permanecerem em 13,75% e 11,00%, respectivamente. Os especialistas querem ver mais indicadores para saber o que esperar para os juros.