Uma revisão dos números do Cadastro de Geração de Emprego e Desemprego (Caged), do Ministério do Trabalho, cortou quase pela metade a quantidade de empregos formais gerados no Brasil em 2020. A estimativa inicial, de 142,6 mil postos foi revisada para 75,8 mil após uma análise fina dos dados. O governo diz houve um problema no repasse dos dados das empresas. Por isso, o erro. Independentemente de como tenha se dado o equívoco, o importante é o que ele representa. O Brasil vai mal de emprego, e isso não vai mudar logo. Uma estimativa da FGV/Ibre aponta que, com um crescimento baixo do PIB, o sonho de voltar ao desemprego de um dígito virá só depois 2026.

No entendimento de Luiz Guilherme Schymura, doutor em economia e pesquisador do Ibre/FGV, com um crescimento de 1,5% ao ano entre 2023 e 2026 (número condizente com as expectativas do mercado) seria possível levar a taxa de desemprego (com ajuste sazonal) para 11,6% em 2026. No caso de um crescimento de 2,5% no mesmo período, o desemprego bateria 10,8%, ainda nos dois dígitos. Tudo isso enquanto se aprofundam as diferenças sociais, já que a falta de emprego pune de forma mais bruta os mais pobre. Para se ter uma ideia, em 2020, 17,1% das pessoas sem instrução e com o ensino fundamental incompleto estavam desempregadas, número que cai para 14,8% para o grupo com fundamental completo e ensino médio incompleto. Quando olhamos os que possuem médio completo e superior incompleto, a cifra vai para 6,4%. Entre os brasileiros com superior completo, por outro lado, houve avanço de 5,5% nos empregos em 2020.

1,5% é a estimativa média de crescimento anual do PIB do Brasil entre 2023 e 2026. Com essa cifra, entraríamos em 2027 com desemprego em 11,6%

FUTURO E se é possível antecipar o problema, também é possível pensar em soluções. Com a eleição presidencial se desenhando no horizonte, os candidatos terão que apresentar soluções para o problema. Para José Carlos Borgonhoni, doutor em economia pela USP e ex-pesquisador do PNAD, uma forma de elevar o número de empregos sem depender diretamente da retomada da atividade econômica é ter o governo como centro da política pública. “Há alguns anos, a saída foi investir em obras de infraestrutura. Isso movimentou o mercado de trabalho. Hoje o mais condizente seria o governo investir na economia verde”, disse. Em outras palavras, grandes projetos para mudança da matriz energética, liberação de crédito para que as industriais reestruturem suas operações para emitir menos carbono e desenvolver uma economia verde, em especial na Região Norte, seria capaz de dar esse choque de emprego. “Esperar um aumento de demanda sem estímulo é ficar a ver navios”, disse. O negócio, disse ele, é uma criar uma economia nova.