No início da semana passada, uma notícia passou despercebida pelo novo site da DINHEIRO (aliás, vale a pena conhecer como ficou mais simples navegar pelas notícias em tempo real, pelas reportagens da revista e pelo conteúdo online exclusivo, como vídeos e blogs). O texto estava entre os destaques secundários, mas com um título atraente: “Brinquedos sexuais suecos são mais seguros que brinquedos infantis (estudo)”. Epa! O que o prazer tem a ver com a economia? A agência de notícias France Press trazia o estudo de uma autoridade de inspeção de produtos químicos da Suécia que comparou a existência de materiais perigosos nos brinquedos para adultos e para crianças.

O resultado é incômodo: 15% dos objetos para os pequenos contêm algo inadequado ou impróprio para a saúde contra apenas 2% nos para adultos. “É a primeira vez que realizamos esse estudo e foi um pouco surpreendente”, disse a fiscal Frida Ramstrom. É óbvio que tudo o que envolve o bem-estar de crianças deve ser investigado e tratado como prioridade, mas impressiona como o sexo é um tema que ainda provoca espanto em qualquer parte do mundo. No Brasil, o deputado Marcelo Aguiar (DEM-SP) prefere se preocupar com o que as pessoas veem no seu celular a debater os graves problemas que atrapalham o desenvolvimento econômico do País.

O parlamentar, ligado à bancada evangélica, criou um projeto de lei para que as operadoras bloqueiem todo o acesso a sites de sexo virtual e pornografia. É bom que se diga que um conteúdo nocivo não é, necessariamente, ilícito. O submundo dessa história é a pedofilia, a pornografia infantil e o vazamento de fotos íntimas, principalmente de mulheres. Esses, sim, são crimes e devem ser combatidos. Mas é importante falar dos benefícios do sexo para a economia, um mercado bilionário onde a crise passa distante. Em 2016, a Associação das Empresas do Mercado Erótico e Sensual projetava uma expansão na receita das empresas de quase 20%, para R$ 1,2 bilhão no País.

São 30 fabricantes, 15 importadores e 50 distribuidores, que geram mais de 125 mil empregos. Globalmente, essa indústria é uma potência. A pornografia (incluídas as produções em vídeo) movimenta algo em torno de R$ 200 bilhões, por ano. Se os valores ligados ao mercado legal impressionam, o do paralelo ainda é objeto de controvérsias. Nos Estados Unidos, o Urban Institute, uma empresa de pesquisa especializada em temas que estão à margem da economia, escolheu oito cidades para calcular o peso financeiro da prostituição.

O impacto somado é de US$ 1 bilhão, em cidades como Atlanta e Miami. Dois terços do pagamento, claro, são feitos com dinheiro em espécie. Diante dessa alta soma, a Itália passou a inserir a prostituição no cálculo do PIB, há três anos. A decisão do instituto de estatística italiano seguiu uma recomendação da União Europeia, que permite legalizar algumas transações ilegais. Nada como adequar o que é errado às suas necessidades. Onde dificilmente tem acordo são as peripécias de homens públicos. Mal entrou na Casa Branca, Donald Trump está tendo de lidar com a ameaça de um dossiê russo que promete expor sua intimidade pouco convencional.

Choca mais a opinião pública saber que seu presidente teria sido gravado com prostitutas urinando sobre ele (golden shower) do que sua posição racista, sexista e homofóbica. É motivo para impeachement? Há 20 anos, Bill Clinton escapou de um, após envolvimento com a estagiária Monica Lewinsky. O que ele conseguiu foi preencher o imaginário popular. E, como lembrou o cronista Luís Fernando Veríssimo, o significado de felação só foi conhecido por muitos nesse caso. É possível que Trump enriqueça os verbetes, enquanto empobrece os EUA.