O compromisso com uma agenda que concilie crescimento econômico e preservação do meio ambiente foi consenso entre os três presidenciáveis do PSDB que participaram na sexta-feira, 12, do debate promovido pelo Estadão. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, afirmou que o governo federal deve adotar uma política de “desmatamento zero” para ganhar credibilidade perante o mundo e punir com rigor responsáveis pela destruição de florestas. “Credibilidade inclusive para o comércio de outros produtos que não tenham relação com a floresta”, disse ele.

“Não precisa de desmatamento para crescer economicamente”, disse o governador gaúcho, ao ser questionado pelo diretor da Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani, sobre ações possíveis para tentar reverter o cenário atual de desmatamento.

No mesmo tema, o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio questionou o governador de São Paulo, João Doria, sobre sua posição a respeito da Zona Franca de Manaus. Virgílio afirmou que é “descabido” advogar contra a manutenção do polo industrial, que, segundo ele, contribui para a preservação da Floresta Amazônica.

Fundo ambiental

Doria disse não ser contra o polo e defendeu a criação de um “fundo ambiental” com a participação das empresas que estão na Zona Franca. Para o governador paulista, isso demonstraria o esforço para manter a floresta preservada. “Sou a favor da formação de um fundo soberano composto por todas as empresas que estão na Zona Franca de Manaus, um fundo verde, um fundo ambiental, para que fique claro para o Brasil e para o mundo que aquelas empresas contribuem efetivamente com investimento para manter a floresta e o trabalho de caboclos e ribeirinhos com a floresta de pé”, declarou.

“Se nós tivéssemos todos aqueles empregados na Zona Franca de Manaus demitidos, essas pessoas ficaria sem trabalho e provavelmente estariam vulneráveis para aqueles que preferem derrubar árvores a preservar árvores”, continuou Doria. “Eu sou a favor da manutenção de árvores e do plantio de árvores e também da manutenção dos territórios indígenas e dos territórios ribeirinhos no Amazonas.”

O debate de ontem foi mediado pela colunista do Estadão Eliane Cantanhêde. Doria, Leite e Virgílio responderam a questionamentos feitos por jornalistas do Estadão e da Rádio Eldorado e por convidados que enviaram perguntas. O evento foi transmitido pela TV Estadão e em todas as plataformas do jornal.

Recorde

Virgílio destacou a importância da Amazônia. “Eu vim falar de Amazônia. Vim falar de nós explicarmos ao mundo que o mundo depende da Amazônia. E explicar ao Brasil que a soberania nacional depende da Amazônia ser bem governada. Ela está sendo destruída”, disse o ex-prefeito.

Dados divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão do Ministério de Ciência e Tecnologia, mostram que a área de alertas de desmatamento de outubro foi a maior para o mês nos últimos sete anos.

Correndo por fora nas prévias tucanas, Virgílio afirmou ainda que a Floresta Amazônica deve ser prioridade de qualquer governo. “Está na hora de termos um presidente que seja da Amazônia, a região mais relevante do mundo e que inclusive tem implicações de segurança nacional”, observou.

Sem citar nominalmente o presidente Jair Bolsonaro, Virgílio declarou que o País “deixa a desejar” na política ambiental e pode enfrentar “consequências”. “Eu vou representar essa região para valer. Se chegarmos à Presidência, estadistas do mundo inteiro vão falar: agora sim o Brasil começou a falar sério da Amazônia, o que vai significar muito do ponto de vista da economia’.”

‘Prioridade’

Ao citar as políticas adotadas em São Paulo, Doria defendeu a desestatização do Estado. Também reforçou que é favorável à proteção dos mais pobres e a políticas consistentes na área da educação. O governador de São Paulo ressaltou que a reforma administrativa do Estado viabilizou a reabertura de escolas.

Ele também disse ter aberto creches e investido no ensino infantil, classificado por ele como a “base primordial” para o desenvolvimento. “No meu governo, a prioridade numero um, ao lado da geração de empregos, será a educação.”

O governador de São Paulo lembrou que escolas de tempo integral cresceram em quantidade durante seu governo. “Em 16 anos dos meus antecessores, tivemos apenas 366 escolas de tempo integral. Não os critiquei, aliás, até elogiei, mas achava que era pouco.”

Virgílio também mencionou a educação como caminho para a diminuição da pobreza. Na avaliação dele, os programas sociais não devem ser o fim, mas, sim, o meio para a emancipação dos mais pobres por meio da educação.

Ao responder a uma pergunta do padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, sobre eventual instituição da renda básica, o ex-prefeito de Manaus defendeu “tudo para os efetivamente mais pobres”. Ainda segundo ele, “é possível ser liberal e ser, ao mesmo tempo, sensível socialmente”.

Poderes

Leite e Virgílio defenderam o diálogo com o Congresso. Questionado sobre como seria sua relação com o Legislativo e se aceitaria se aliar aos partidos do Centrão se fosse presidente, o governador do Rio Grande do Sul afirmou que a relação com o Parlamento deve se dar em torno de projetos.

“É dever sentar e conversar”, disse Leite. “Eu já pude mostrar, sendo prefeito e governador, a forma como eu ajo, respeitando o Parlamento que é escolhido pela população. São os legítimos representantes do povo brasileiro.”

Na réplica, Virgílio, que foi senador, destacou sua experiência no Legislativo e no Executivo. “Eu sei como fazer, porque eu vi fazer”, afirmou, antes de dizer que não é “aprendiz”.