Depois de passar 15 anos refém de empréstimos para fazer as contas fecharem no fim do mês, a professora Marcele Pontes, 42 anos, decidiu dar um basta nas dívidas e retomar o controle sobre o orçamento pessoal. Isso aconteceu em 2017, quando começou a guardar uma parte do dinheiro e aplicar em títulos do Tesouro Direto. Mas, a necessidade de liquidez durante a crise fez Marcele recorrer a uma velha conhecida: a caderneta de Poupança.

“Tinha um dinheiro para receber em março, então pela primeira vez após minha jornada de educação financeira apliquei na poupança em vez do Tesouro”, diz ela.

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Investimento mais popular entre os brasileiros, a Poupança rende 70% da taxa Selic, que foi fixada em 3% pelo Copom na última quarta-feira, 6. Isso significa que a aplicação rende atualmente 2,1% ao ano – uma das rentabilidades mais baixas na renda fixa.

Mesmo assim, milhares de brasileiros aplicaram suas economias na Poupança em abril, fazendo com que a captação líquida no mês – o volume de recursos que entrou menos o volume de recursos que saiu – fosse positiva em R$ 30,46 bilhões – a maior desde 1995.

Para efeito de comparação, durante todo o ano de 2019, a captação líquida total da Poupança foi de R$ 13,33 bilhões, segundo dados divulgados pelo Banco Central .

O resultado além do esperado, mesmo em um momento de crise e na contramão da tendência observada nos últimos anos, deixa uma curiosidade: o que motivou a alta?

Para Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Anefac, a captação em abril foi puxada pelos cidadãos que receberam na conta poupança a primeira parcela do auxílio emergencial. Os que perderam dinheiro na renda variável e os que se decepcionaram com o baixo rendimento de fundos de renda fixa no mês de março contribuíram.

“A maioria dos fundos de renda fixa ficou negativo em março e abril por problemas de marcação de papéis a mercado, coisa que não acontece na poupança”, diz Daniel Pegorini, CEO da Valora Investimentos.

De acordo com a Economática, a Poupança rendeu 72,3% em março ante 30,04% dos fundos de renda fixa. Mas isso não quer dizer que quem trocou os fundos pela poupança na virada de março para abril vai se dar bem. Em 12 meses, a vantagem ainda é dos fundos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.