Não é nada, não é nada, não é nada mesmo. Mas num país que parece ter feito algum  desaforo para sua fada madrinha, a notícia de que o Brasil havia subido uma posição no ranking de competitividade internacional apurado pelo Fórum Econômico Mundial chegou a ser celebrado como um avanço, no início desta semana. Não tanto pelo posto conquistado, o 80º entre 137 posições, mas por significar o possível estancamento de uma queda contínua, iniciada em 2012.

Há cinco anos, o Brasil era o 48º da lista e desde então vem caindo vertiginosamente. Hoje, segundo o trabalho divulgado pela Fundação D. Cabral, de Belo Horizonte, parceira local do Fórum Econômico, o País é a economia menos competitiva entre os integrantes dos Brics. Pior: na América Latina, liderada pelo Chile (33º), ficamos atrás de potências como a Costa Rica, Panamá (50º), México (51º), Colômbia (66º), Peru (72º) e Uruguai (76º). Mas há um consolo: estamos à frente da hermana Argentina (97 º)

Entre os gigantes internacionais, perdemos ainda para a Romênia, Irã e para a Albânia, o antigo paraíso comunista do saudoso camarada Enver Hoxha. E estamos, sim,  a léguas de distância do pelotão de frente do ranking, liderado pela Suíça, pela nona vez consecutiva, seguida pelos  Estados Unidos Cingapura,  Holanda, Alemanha, Hong Kong, Suécia, Reino Unido, Japão e Finlândia.

Para chegar às suas conclusões, o ranqueamento executado desde 1979  analisou 114 variáveis, de 12 categorias, que vão da vitalidade das instituições, infraestrutura, ambiente macroeconômico, saúde , educação primária e  superior, passando pelo desenvolvimento do mercado financeiro, eficiência do mercado de bens e de trabalho, a partir de informações fornecidas junto aos Bancos Centrais, FMI e Banco Mundial, além de entrevistas com  homens de negócios.

De acordo com  os executivos ouvidos, os fatores mais problemáticos para as empresas brasileiras são a carga tributária, a ineficiência da burocracia estatal e a corrupção. A julgar pelos resultados encontrados, nossos políticos estão com a barra sujíssima junto aos 103 executivos ouvidos pela Fundação Dom Cabral para a pesquisa. Suas respostas fizeram do Brasil o lanterninha entre os 137 países avaliados e um dos três piores em termos de desvios de recursos públicos,entre outras coisas desagradáveis.

No entanto, a despeito das credenciais irrepreensíveis e da credibilidade dos responsáveis pelo exaustivo trabalho, executado com esmero a quase quatro décadas, os resultados do ranking não deixam de ser intrigantes, quando cotejados com a realidade do mundo dos negócios e da economia.

Por exemplo, não é fácil entender como é possível o Brasil ocupar posição tão desfavorável no confronto com economias como as do Irã, Albânia ou Romênia, citadas acima. Ou de players como o Peru, Uruguai ou Costa Rica.

Considerando-se que os homens de negócios, principalmente os altos executivos de multinacionais, não tenham o hábito de beber água fervente e nem de rasgar dinheiro, como explicar, então, que a despeito da má figura no ranking do Forum Econômico Mundial, o Brasil há cerca de 15 anos vem figurando sistematicamente na lista dos 10 maiores receptores de Investimento Direto Estrangeiro ( IDE), do planeta? E que tenha chegado a ocupar a quarta posição em 2013 e a sexta em 2014? Como se sabe, investimento direto é aquele dinheiro que veio para ficar, aplicado em fábricas, mineração, telecomunicações e bancos, entre outros.

Aos números. Segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento ( Unctad), o Brasil recebeu US$ 98 bilhões em 2011, US$ 78 bilhões em 2012, US$ 55 bilhões em 2013, US$ 73 bilhões em 2014, US$ 64,6 bilhões em 2015 e US$ 50 bilhões em 2016. E mais: as cifras do ano passado, a despeito da crise política e da recessão, garantiram ao País o sétimo lugar na lista dos maiores receptores mundiais de IDE, liderada pelos Estados Unidos (US$ 368 bilhões), Reino Unido (US$ 240 bilhões) e China (US$ 122 bilhões).

Um outro estudo, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do governo federal, avalia a evolução do IDE  de 2003 a 2014. Ao fim do período o estoque de recursos estrangeiros aplicados produtivamente alcançava US$ 700 bilhões. Desse total, US$ 356 bilhões referiam-se a projetos greenfield, isto é, investimentos que partiam do zero em novas plantas e negócios, que geraram nada menos de 778 mil empregos diretos.

Pouco menos de um terço dessa dinheirama (US$ 110 bilhões) foi investido em São Paulo, seguida pelo Rio de Janeiro (US$ 50 bilhões), Minas Gerais (US$ 37 bilhões) e Pernambuco (US$ 31,7 bilhões). Entre os setores mais aquinhoados figuram siderurgia e mineração (US$ 76 bilhões), Comunicações (US$ 52 bilhões) e automotivo (US$ 47,4 bilhões).

Ou seja: a turma reclama, reclama, mas na hora de aplicar seu rico dinheirinho, por alguma fator que as pesquisas de competitividade ainda não conseguiram detectar, decide por um certo País  tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza.

Já pensaram se o Brasil estivesse bem na foto do Fórum Econômico Mundial? Aí já seria covardia. Pobre Albânia.