As potências envolvidas no conflito líbio prometeram neste domingo (19) respeitar um embargo de armas das Nações Unidas e se abster de intervir nos assuntos internos deste país destroçado pela guera civil, ao mesmo tempo em que pediram um cessar-fogo permanente.

No entanto, é incerto o alcance destes acordos, visto que os dois adversários diretos, Fayez al-Sarraj – chefe do Governo de Unidade Nacional (GNA), reconhecido pela comunidade internacional – e seu rival, Khalifa Haftar, se negaram a se reunir na conferência de Berlim, da qual participaram Rússia, Turquia, França, Alemanha, Reino Unido e Nações Unidas, entre outros.

O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, admitiu que embora a conferência tenha sido “muito útil”, ainda persiste um abismo entre os dois grupos em disputa. “Está claro que ainda não conseguimos iniciar um diálogo sério e estável entre eles”, disse Lavrov à imprensa.

– ‘Pequeno passo’ –

Tanto Lavrov quanto a chanceler alemã, Angela Merkel, anfitriã da conferência de um “pequeno passo à frente”, enquanto admitiram que restava muito a fazer para conseguir paz.

O principal avanço da reunião de Berlim foi que os líderes de onze países, a começar pela Rússia e pela Turquia, que desempenham um papel-chave na Líbia, coincidiram em uma declaração conjunta em “que não há uma solução militar para o conflito”, declarou o secretário-geral da ONU, António Guterres.

“Não posso enfatizar quão importante é este compromisso”, vindo inclusive de países “que estão mais envolvidos do que outros” na Líbia, enfatizou.

O conflito continuou se internacionalizando nos últimos meses e ameaça transformar o país em uma “nova Síria”.

“Todos os participantes se comprometeram a renunciar à ingerência no conflito armado ou nos assuntos internos da Líbia”, disse Guterres.

A Turquia apoia militarmente o GNA e suspeita-se que a Rússia apoie o marecham Haftar, juntamente com Egito, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

Os participantes também prometeram respeitar o embargo às remessas de armas para a Líbia, decretado pela ONU em 2011, mas que em grande medida é letra morta desde então.

Desde a retomada dos enfrentamentos entre grupos rivais, em abril de 2019, mais de 280 civis e 2.000 combatentes foram mortos e, segundo a ONU, mais de 170.000 habitantes foram deslocados.

Em geral, o país está mergulhado no caos e castigado pela violência e pelas disputas de poder desde a queda do regime de Muammar Kadhafi, em 2011.

O presidente francês, Emmanuel Macron, de quem seus aliados europeus suspeitam que apoie o marechal Haftar, pediu que se suspenda o envio de milicianos sírios pró-turcos e soldados turcos para apoiar o GNA.

“Devo falar-lhes da profunda preocupação que inspira a chegada de combatentes sírios e estrangeiros à cidade de Trípoli, o que deve parar”, disse Macron.

A ONU espera sobretudo que esta conferência fortaleça a trégua que entrou em vigor por iniciativa da Rússia e da Turquia em 12 de janeiro.

Uma reunião entre representantes militares dos dois campos deve ser realizada em breve, com a esperança de transformar esta calmaria em um cessar-fogo “permanente”, como solicitaram os participantes da cúpula em Berlim.

Até agor,a a trégua tem sido mais ou menos respeitada entre os dois campos rivais às portas da capital.

– Força Internacional? –

Mas a escaramuças continuam a cada dia e inclusive houve uma ao sul de Trípoli neste domingo, durante a cúpula. E o marechal Haftar bloqueou as exportações de petróleo líbio, a única fonte de renda do pais, às vésperas da cúpula de Berlim.

Neste contexto, o líder da GNA solicitou neste domingo o envio de uma “força militar internacional” sob os auspícios da ONU. Sua missão seria “proteger a população civil”, disse.

Vários líderes, incluindo chefes de governo italiano e britânico, disseram estar abertos no domingo à ideia de enviar uma missão internacional para ajudar a garantir um cessar-fogo, uma vez que tenha sido aprovado pelos dois lados.