“O Estado não tem que distribuir cartas, limpar banheiro de aeroporto e abastecer automóveis.” O que se tornou quase um bordão do ex-secretário de Desestatização e Privatização Salim Mattar e do ministro da Economia, Paulo Guedes, começa a se tornar realidade – pelo menos na parte dos postos de combustíveis. A partir de 2 de julho, a Petrobras vai começar a oferecer na B3 sua fatia remanescente de 37,5% na BR Distribuidora. O plano aprovado pelo Conselho de Administração de estatal e informado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) prevê oferta pública secundária de suas 436,7 milhões de ações da BR. A venda deve movimentar cerca de R$ 12 bilhões, considerando a atual cotação de R$ 27. O valor final por ação será determinado depois da coleta de intenções de investidores institucionais, previsto para quarta-feira (30). Liderada pelo Morgan Stanley, a oferta será coordenada também pelo Bank of America (BofA), Citi, Goldman Sachs, Itaú BBA, JP Morgan e XP.

O conselho da Petrobras já havia aprovado a venda da BR em agosto do ano passado, no auge da pandemia. A decisão não avançou porque havia muita incerteza em relação ao rumos do mercado e ao receio dos investidores sobre o nível de interferência do presidente Jair Bolsonaro no setor de combustíveis. O desengavetamento dos planos foi motivado agora pela recente valorização das ações da distribuidora. A atual cotação já supera os patamares pré-pandemia.

Fatia da BR será vendida em julho. O negócio deve movimentar R$ 12 bilhões em ações

Na avaliação do economista chefe da Valor Investimentos, Paulo Duarte, a saída da Petrobras do setor de distribuição atesta que a companhia está empenhada em retomar a estratégia de se voltar à atividade principal, de exploração, extração e refino. “A venda de ativos não estratégicos mostra que a empresa vai buscar mais eficiência, aumentando sua capacidade de investimento e reduzindo seu elevado grau de endividamento”, afirmou Duarte.

Segundo ele, já há no horizonte a previsão de uma melhor recepção do mercado. “Um sinal de que a medida é bem vista, com a possível entrada de fundos de pensão e de family office, é a alta nos papeis da empresa nos últimos dias.”

Apesar de já ter data para a venda, logo depois de protocolar o pedido na CVM, a própria Petrobras divulgou nota informando que “a realização da operação estará sujeita, entre outros fatores, às condições de mercado, à aprovação dos órgãos internos da Petrobras, notadamente quanto ao preço, e à análise da Comissão de Valores Mobiliários, nos termos da legislação aplicável.”

MARCA INTOCÁVEL A venda de participação da Petrobras na BR não vai alterar o logo, estrutura e distribuição para os postos de combustível da rede. (Crédito:Divulgação)

Para o economista Glerton Reis Junior, presidente da Coneex Advisory, a venda da BR Distribuidora vai abrir caminho para a volta de gigantes do setor em território tupiniquim. “A americana Exxon Mobil [que no Brasil era dona da Esso] pode voltar para o País já que é improvável que empresa que já atuam, como a Shell, receba aprovação no Cade”, disse. Na avaliação dele, a decisão de sair do mercado de distribuição – em paralelo à capitalização da Eletrobras – tem sido um bom cartão de visitas para a retomada dos planos de privatização de outros ativos ligados ao governo, especialmente Correios, Porto de Santos e ferrovias.

MERCADO A venda das ações da BR não deve alterar o posicionamento de mercado da rede BR nem mudar a marca. Segundo a Petrobras, o contrato de licenciamento é independente do negócio. A petrolífera continuará produzindo combustíveis por meio de suas refinarias e vendendo para as distribuidoras, entre elas a BR. Fora do País, a Petrobras também está em processo de se desfazer de suas redes de postos de gasolina. Hoje, ainda tem unidades na Colômbia, por meio da subsidiária Petrobras Colombia Combustibles (Pecoco). A petroleira brasileira também pretende se desfazer, além das ações na BR, a sua participação na Gaspetro, que opera em distribuidoras de gás e refinarias. Há ainda outras sete que estão à venda, além da Refinaria Landulpho Alves, em Salvador, foi vendida ao fundo Mubadala por US$ 1,6 bilhão.