Como a maioria das empresas, a Positivo Tecnologia, a principal companhia brasileira do setor de equipamentos de tecnologia, preparou-se para o pior no início da pandemia de covid-19: à medida que a economia se fechava, buscava formas de cortar custos, cancelar encomendas e se preparar para o pior. Em questão de semanas, no entanto, ficou claro que o contrário ocorreria: o ensino a distância e o home office fizeram a procura por laptops explodir – mudando radicalmente a narrativa da empresa para 2020.

“Mudamos de um cenário pessimista para corremos para abastecer um mercado que precisava do produto de qualquer jeito”, disse o empresário Hélio Rotenberg, fundador e presidente da Positivo Tecnologia (há três anos, a empresa abandonou o complemento “Informática”). Resultado: em lugar de cancelar pedidos de peças, a Positivo se viu disputando componentes em todo o mundo. “O movimento de busca por computadores foi global. Logo, o relacionamento fez bastante diferença. Só não vendemos mais porque não conseguimos entregar.”

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A inesperada retomada do mercado de PCs apareceu claramente no balanço do terceiro trimestre: com ganhos superiores a R$ 50,3 milhões, o resultado superou em 455% o lucro de R$ 9 milhões do mesmo período de 2019. E, embora parte do resultado seja explicado pela pandemia, houve uma ajuda da diversificação da empresa – que recentemente ganhou uma licitação para fornecer as novas urnas eletrônicas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e também passou a focar em novos produtos, entre eles itens para casas inteligentes (com funções conectadas à internet).

Essa injeção de ânimo no mercado de PCs, segundo Rotenberg, fez com que o computador voltasse a ser um item pessoal. Desde que os smartphones começaram a se popularizar, há cerca de dez anos, era comum que todas as pessoas de uma residência tivessem seu próprio telefone, mas dividissem um único computador. “Com a necessidade de trabalhar de casa e com as crianças fazendo aulas online, um só laptop passou a não ser mais suficiente”, diz o empresário.

Segundo o IDC, que acompanha de perto o mercado de tecnologia, as vendas de computadores cresceram 16% no primeiro trimestre – resultado que, segundo o analista de mercado Rodrigo Okayama Pereira, reflete a “corrida” pelo produto nas últimas semanas de março. “Teve empresa que, sem conseguir ser atendida por distribuidores ou fornecedores tradicionais, foi ao varejo comprar computador.”

É um movimento, porém, que Rotenberg sabe que não vai se estender ao longo do tempo. O empresário acredita que o mercado pode até continuar crescendo, mas sem saltos. Pereira, do IDC, concorda: ele lembra que o resultado da venda de PCs foi negativo no segundo trimestre. A alta prevista para o ano é de cerca de 6% – o dobro do avanço do ano passado, mas longe de ser uma alta espetacular.

‘Startup’

Fundada em 1989, a Positivo surgiu como uma afiliada do grupo educacional. Rotenberg apresentou ao fundador da companhia – o hoje senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) – a ideia de fornecer computadores às escolas que usavam o material didático da Positivo. “Cada sócio entrou com US$ 20 mil. O investimento total foi de US$ 120 mil”, lembra o fundador. “Se o termo startup já existisse há 31 anos, a Positivo teria se tornado um unicórnio quando chegou a valer US$ 1 bilhão, em 2006.”

Depois de anos como líder de mercado, hoje ela está atrás de Dell, Lenovo e Samsung no País, segundo apurou o Estadão com fontes do setor. Ainda assim, está bem à frente da segunda principal empresa brasileira do setor, a Multilaser.

Além de buscar novos nichos – como produtos ligados à internet das coisas, que estão sendo uma “porta de entrada” da marca nos domicílios das classes A e B -, Rotenberg diz que a Positivo também está de olho na retomada das licitações para equipamentos de tecnologia do governo. Por sua competitividade de preço, essa é uma área em que a Positivo costuma disputar a liderança com as concorrentes multinacionais, segundo fontes de mercado.

A empresa também vem investindo em startups. Entre os 11 negócios em que a companhia paranaense já fez aportes, está a High Technology, de Curitiba, que consegue fazer exames de sangue com apenas uma gota de sangue, entregando o laudo em um minuto.

A empresa já auxiliou o Instituto Butantã em diagnósticos. “Mas a nossa mentalidade não é de fundo (de investimento). A ideia é que a gente possa dar alguma ajuda operacional a esses negócios.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.