Professor de epidemiologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Manuel Gomes assessora o governo de Portugal na resposta à epidemia do novo coronavírus. E alerta: “Na Itália, passamos de zero para dez mil casos num abrir e piscar de olhos.”

Que lições podemos tirar?

Presentemente, o mundo é um laboratório epidemiológico ao vivo, onde ocorrem experiências que nos dão ensinamentos. Vemos que lidar com o mesmo fenômeno de forma diferente conduz a resultados diferentes. Num extremo, temos a China e a Coreia; no outro, parece estar o Irã. No meio, temos a Alemanha, a Espanha, a Itália, e muitos outros. Quando um país toma medidas proativas draconianas (China e, depois, a Coreia), é possível controlar a covid-19, mesmo quando o ponto de partida é muito mau e predomina a transmissão comunitária da doença. O vírus não é imparável quando a sociedade se mobiliza sob liderança forte.

E quando essas medidas não são adotadas?

Quando um país entra em negação, mais semana menos semana, perde-se o controle da situação, e as consequências são pesadas. De início, parece que o número de casos aumenta muito devagar, mas de repente dispara exponencialmente e torna-se imparável. No Irã, a situação está descontrolada e há pouca informação. A Itália aparenta ter estado toda a fase inicial da epidemia a reagir, em vez de tomar medidas proativas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.