Na semana passada, Portugal e Espanha foram protagonistas de ferrenhas batalhas em dois campos. Na terça-feira 29 de junho, a equipe liderada por Cristiano Ronaldo enfrentou a Fúria pelas oitavas-de-final da Copa do Mundo. Nos gramados, a Espanha levou 
a melhor com um gol impedido do artilheiro David Villa no segundo tempo de jogo.

Um dia depois, Portugal deu o troco na mesma moeda. Só que a disputa foi no campo empresarial. O governo do primeiro-ministro José Sócrates fez uso de uma golden share (ação com direitos especiais que permite interferir em uma negociação independentemente da participação na empresa) para vetar a compra dos 50% da Portugal Telecom (PT) na Brasilcel, companhia que controla a operadora Vivo.
 

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Ao que parece, o uso dessa estratégia tem o mesmo efeito de um gol irregular e, dependendo do que a Comissão Europeia definir, este pode ter sido um gol contra de Portugal. A Telefônica fez a primeira proposta de compra, em maio, com uma oferta de 5,7 bilhões de euros. Os acionistas não aceitaram.

Em junho, a empresa subiu para 6,5 bilhões de euros e, novamente, foi rechaçada. Na quarta-feira 30 de junho, elevou a quantia para 7,15 bilhões de euros – o suficiente para seduzir 73,91% dos acionistas. O jogo estava ganho até que o governo português impediu a transação. Agora, o que era um assunto de capital privado se tornou um problema que pode atrapalhar a economia portuguesa.

A Comissão Europeia vai julgar se a golden share utilizada é ilegal ou não. Caso seja considerada ilegal, abre uma brecha para que a Telefônica faça uma nova oferta e, neste caso, a golden share do governo português não valeria mais nada. Mas o principal dano a Portugal – e é aí que reside o gol contra – relaciona-se à sua imagem perante investidores internacionais.

“Essa é uma decisão assombrosa”, disse Robin Bienestock, analista do londrino Sanford C Bernstein, à agência de notícias Bloomberg. “Faz parecer que a gestão da Portugal Telecom está amarrada ao governo português.” Para um país que deslanchou economicamente em função do euro e tem atraído investimentos estrangeiros, isso é muito nocivo.

A própria PT tem 70% de suas ações nas mãos de fundo de investimentos internacionais, entre eles o americano BlackRock. Ao impedir que os investidores resgatem o dinheiro investido, o governo português, faz, de certa forma, soar o sinal de alerta para outros fundos que pretendam pôr dinheiro em companhias com presença do Estado.

O jogo entre os espanhóis e portugueses ainda está empatado, mas pode virar a qualquer momento. A Telefônica certamente voltará à carga. Assumir o controle da Vivo é a única saída para a empresa ganhar escala no Brasil, um dos mercados que mais cresce no mundo, e aproveitar sinergias entre a operadora móvel e a fixa que podem gerar economias de 2,8 bilhões de euros.

A Portugal Telecom, por sua vez, está cada vez mais acuada. Dificilmente conseguirá driblar os espanhóis – Cristiano Ronaldo que o diga – e terá de ceder mais cedo ou mais tarde. Há até quem aposte que essa retranca dos portugueses serve para ganhar tempo e comprar participação em outra empresa brasileira como a Oi. Quem sabe, nos acréscimos, a situação se resolva.