A porta voltou a se abrir para a venda de imóveis no Brasil, após período de retração causada pela Covid-19. E em um ritmo forte. A retomada do consumo, a diminuição do medo de investimento, os juros baixos e a aceleração dos processos tecnológicos, contribuíram para a concretização dos negócios. Maior franquia imobiliária do mundo, criada nos Estados Unidos, a unidade brasileira da Remax (a empresa utiliza a grafia RE/MAX) sentiu o impacto em abril, quando registrou queda de 2% em relação às vendas sobre o mesmo mês de 2019. E parou por aí. Desde então, a empresa vem crescendo em faturamento. Entre janeiro e setembro, foram R$ 2,2 bilhões, alta de 80% sobre os primeiros nove meses do ano passado. “A empresa bateu quatro recordes mensais consecutivos, de junho a setembro”, disse o CEO da Remax Brasil, José Peixoto Accyoli Neto.

Para se ter uma ideia desse resultado, a Lopes, uma das maiores redes imobiliárias do País, registrou queda de 41% no VGV (Valor Geral de Vendas) sobre imóveis novos e usados no segundo trimestre, em comparação com o mesmo período de 2019. Segundo estudo da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o mercado imobiliário nacional registrou queda de 2,2% no número de unidades vendidas no primeiro semestre deste ano. Em vendas, a região Sudeste observou queda de 9,6% no período.

O volume da Remax nos três trimestres deste ano já é superior ao registrado durante todo o ano de 2019, quando fechou com R$ 1,8 bilhão. A contar a manutenção do ritmo, a perspectiva é de completar 2020 com faturamento perto de R$ 3 bilhões. Isso significa que a empresa terá de crescer 66% entre outubro e dezembro para chegar à projeção.

SEM CRISE NA CRISE Aumento de transações imobiliárias é resultado do crescimento na troca de imóveis durante a crise. (Crédito:Divulgação)

O número de transações imobiliárias também cresceu. Foram vendidos 9.017 imóveis de janeiro a setembro, contra 5.978 no período de 2019, uma alta de 50,84%. Levando em conta o faturamento nos nove meses, o valor médio da venda de imóveis chegou a R$ 243 mil. “Temos imóveis de R$ 70 mil, dos programas sociais do governo federal, até unidade de R$ 30 milhões”, disse o CEO. Um dos fatores para o aumento significativo no volume de venda está associado à pandemia, quando muitas famílias precisaram mudar de imóveis. “Existe uma troca de imóveis quando a pessoa muda o padrão de renda. Isso significa mais transações imobiliárias, não necessariamente por imóveis mais caros. Explica em parte esse movimento”, afirmou Accyoli.

Outro indicativo importante que mostra o apetite da empresa em aumentar o volume de vendas é a expansão física. Saltando de 366 unidades no início da quarentena para 402. Todas são franquias. Os corretores associados também cresceram, de 4.514 profissionais para atuais 5.757. Segundo o presidente, a empresa investiu, nos últimos 12 meses, cerca de R$ 1,8 milhão em plataformas digitais. Além da digitalização das transações imobiliárias, com assinatura on-line dos documentos, a empresa investiu em um sistema de tour virtual como forma de seduzir o cliente e direcionar a visitação física a quem sinaliza interesse real pelo negócio.

Ainda que 80% dos imóveis vendidos no Brasil sejam unidades usadas e seminovas, os novos também registraram crescimento nos últimos meses. Segundo dados da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), vendas de imóveis cresceram 58% em julho, com melhor resultado mensal desde 2014. Para o presidente da AbraiWnc, Luiz França, a perspectiva é de manutenção de alta. “Após o período de recuperação, as pessoas já começaram a ter segurança sobre realocação de investimentos e os imóveis sempre tiveram um bom retorno. É investimento seguro”, disse. Accyoli acredita que o cenário poderia ser ainda mais favorável, não fosse a demora do governo federal em avançar com as reformas. “A estrutura tributária brasileira é nociva para o empresário.” E para quem compra ou vende imóveis no Brasil.