Nesta terça-feira, 30, John Reed, ex-todo poderoso do Citicorp, entrará no prédio da Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) pela segunda vez em sua vida. Na primeira, era executivo do Citi. Agora, aos 64 anos, Reed vai deixar uma confortável aposentadoria para substituir Richard Grasso no cargo de presidente e principal executivo da NYSE. Grasso foi forçado a pedir demissão do posto depois de vir a público que sua remuneração ultrapassava US$ 140 milhões, despertando protestos de investidores, corretores e fundos de pensão. Reed, que ficou milionário no comando de um dos maiores bancos do mundo, impôs duas condições para assumir o cargo: não ficar mais de um ano no novo emprego e receber um salário de apenas US$ 1 por ano. ?Chega uma hora na vida em que alguém faz um determinado convite e a resposta certa é dizer sim?, afirmou, via teleconferência, de uma ilha na costa da França, onde passava férias.

A volta de Reed aos holofotes do mundo corporativo foi uma surpresa. Desde que se aposentou, em 2000, dedicava-se a aulas na Universidade Princeton e no Massachusetts Institute of Technology, além de participar do conselho de administração da Altria, uma subsidiária da Philip Morris. Sua especialidade é o mercado financeiro, onde construiu toda sua carreira. Começou na divisão internacional do First National Bank, em 1965, banco que deu origem ao Citibank. Como presidente do Citicorp (de 1984 a 1998), representou os credores privados na negociação da dívida com o Brasil, que interrompeu o pagamento durante o governo Sarney, em 1987. Com US$ 3,9 bilhões em títulos da dívida brasileira, o Citicorp era o maior credor privado do País. A participação de Reed foi fundamental para se fechar um acordo. Apreciador da música brasileira, Reed fala fluentemente espanhol e português, habilidades conquistadas após ter morado com os pais nos dois países durante parte de sua adolescência. Seus dias de glória, porém, acabaram após a fusão com o Travelers Group, dando origem ao Citigroup. Na disputa pelo comando do novo gigante financeiro, Reed perdeu o posto para Sanford Weill. Restou-lhe a aposentadoria.

Reed volta à cena com a árdua missão de resgatar a imagem da NYSE, principalmente no quesito governança corporativa. Sua primeira ação foi anunciar que deixará o conselho da Altria, empresa listada na bolsa. Mas sua principal tarefa será mesmo escolher o futuro sucessor. O candidato ideal deve ser o mais diferente possível do anterior, Grasso. De agora em diante, para ganhar dinheiro na Bolsa de Nova York, só mesmo no pregão.