Menos com menos só dá mais na matemática. No restante dá menos. Basta este exemplo: menos (um presidente político profissional de pequenez humana), menos (a legião de terraplanistas), menos (bancadas me$$iânica$), menos (um supremo de comportamento raso), menos (líderes empresariais anestesiados). E o que temos? Menos um País. Esse momento sem coragem começa a mostrar seu rabo pontudo. A inflação está a sair de controle, e justamente pelo preço dos alimentos, o que mais incendeia humores. O desemprego de 14% vai crescer no próximo trimestre. A política externa (de onde poderiam vir ações, ajuda e boa vontade) é um desastre. E o PIB… bem, todos sabemos do PIB. Tudo isso, conjugado a uma agenda de irresponsabilidade fiscal, vai fazer o Brasil produzir o que somente a ficção científica conseguiu: uma máquina do tempo. Voltaremos a 1981-1983 – recessivos, sem empregos, hiperinflacionados, à beira da moratória. E sem Mundial.

Como saída, se houver, caberá à elite da classe produtiva, a líderes econômicos e economistas jogarem a cor das camisas no lixo. E sentarem-se à mesa. Ou em call. Em vez de separar os nomes por escolas econômicas, segmentos econômicos, ou quaisquer outras divisões, será necessário dividir os selecionados entre os bons e os ruins. Caim de Abel. Joio de trigo. Crianças de adultos. Será preciso assimilar que numa era de currículos engordados a pedaladas, os fracos-não-têm-vez. E aí vale a primeira dica: Keynes não foi o keynesiano full como muitos de seus adeptos se declaram. Foi muito mais razoável e complexo. Adam Smith só se resume à “mão invisível do mercado” por quem não o leu. Ele citou essa frase uma só vez, e meteu um aposto gigante na sequência. Para o seleto grupo que o consumiu ele traz muito mais nuances e ressalvas. Escapar da cilada chamada Brasil pedirá atuar como nunca antes desde 1500.

Não se trata de pacto. Esse já existe e ocupa as melhores cadeiras de Brasília. Trata-se do oposto. Montar um time adversário de notáveis. Que assuma a liderança da nova grande agenda econômica. E a proponha ao País. Mais pragmática, por favor. A liderança desse momento de convergência e sinergia não estará em instâncias do tal Estado. O Estado Brasil é catatônico. Nossa classe política é deprimente. Ninguém com CNPJ limpo compraria um carro usado do presidente. Nossa supremacia jurídica é deprimente. Uma Carta Maior que determina pagar salário integral a juiz condenado por vender sentença é deprimente. Acreditar que matar negros como matamos e isso não tem a ver com a economia – e a civilização – é deprimente.

A solução brasileira deve vir do que resta dos setores dignos e civilizados – e apenas das partes que estão no campo produtivo. Dois segmentos podem servir de exemplo: a tecnologia e o varejo. O que, na verdade, são a mesma coisa. Mire-se em Jeff Bezos. Ao fundar a Amazon, em 1994, ainda com o tenebroso nome Cadabra, ele tinha em mente esse futuro agnóstico. Sua plataforma venderia tudo. Incluindo os itens de concorrentes. O embrião do que chamaríamos market place. Herege, num primeiro momento. Agnóstico, num segundo. Ao abandonar a ortodoxia você se torna herege. Ao estar herege você ficará livre para pensar de forma independente os momentos dramáticos como o atual. Bezos criou a maior loja do planeta ao desconstruir e destruir o conceito de loja e ao chamar a concorrência de fornecedores.

Hoje, o que está em jogo é um custo de oportunidade para a sociedade brasileira. E isso pedirá que os verdadeiros nomes por trás das grandes instituições, organizações, corporações e entidades que não estejam apenas a fim de mamar no Estado ocupem o tabuleiro. O Brasil precisa da luz de algumas luizas… Ou de todas elas. Precisa profanar o templo para se reerguer como espaço de decência. A economia só reagirá a partir da civilidade. Esse é o ponto.

Edson Rossi é redator-chefe da Dinheiro