No Brasil, defender a reforma da Previdência Social se transformou, infelizmente, num crime. Quem o faz é taxado de governista. Dado que o governo Michel Temer tem baixíssima aprovação e que o tema é impopular em qualquer lugar do mundo, o defensor das mudanças nas regras das aposentadorias necessariamente fará parte de uma minoria a ser massacrada nas redes sociais. Para a maioria contrária à reforma, pouco importa a argumentação econômica. Eles querem se aposentar pelas regras atuais, pois trabalharam e contribuíram para isso. Teriam, portanto, um “direito adquirido”. Eu discordo e vou tentar, aqui, expor alguns argumentos. Espero dos críticos (a maioria) apenas duas coisas: que leiam o artigo até o final e que respondam com argumentos econômicos.

1) O primeiro ponto ignorado pelos defensores dos “direitos adquiridos” é que a população brasileira está vivendo mais. Em 1960, a expectativa de vida, segundo o IBGE, era de 48 anos. Em 2014, passou a 75,4 anos. Um salto de mais de 25 anos em apenas meio século. Se o avanço da medicina nos permite viver cada vez mais, não é sensato imaginar que a regra da Previdência Social possa ser a mesma do passado. Ao viver mais, as pessoas terão uma “vida de aposentado” mais longa e, portanto, custarão mais aos cofres do INSS. A mim parece lógico que o País precisa de uma idade mínima para a aposentadoria. A proposta de 65 anos para homens e de 63 anos para mulheres me parece bem razoável.

2) O segundo ponto envolve as dívidas de empresas com o INSS. Quem é contra a reforma da Previdência normalmente argumenta que bastaria o governo cobrar os devedores. Arredondando os números, a Previdência tem R$ 380 bilhões a receber e, atualmente, apresenta um rombo anual de R$ 190 bilhões. Portanto, ainda que o governo conseguisse cobrar 100% das dívidas (premissa utópica, pois muitos devedores já faliram, como a Vasp e a Varig), o déficit seria resolvido apenas nos dois primeiros anos. No ano seguinte, não haveria saldo devedor e o rombo se repetiria. O governo tem o dever de cobrar os caloteiros, sim. Mas a cobrança não elimina a necessidade de uma reforma.

3) O terceiro ponto diz respeito aos mais pobres. Os barulhentos sindicatos, que estão “ao lado dos trabalhadores”, são contra a reforma. Quais trabalhadores eles defendem mesmo? Os trabalhadores abonados, que têm renda maior do que a média da sociedade (aliás, eu faço parte desta lista de abonados). Atualmente, dois terços dos aposentados recebem apenas um salário mínimo. Essas pessoas, que não são defendidas pelos sindicatos, já se aposentaram pela idade mínima. Sim, a idade mínima já existe para os mais pobres e ela é de 65 anos para os homens e de 60 anos para as mulheres. A mudança proposta é para que todos tenham a mesma regra da idade mínima, incluindo quem receberá mais do que um salário mínimo. Os servidores públicos, também. Portanto, a reforma da Previdência atinge apenas um terço dos trabalhadores, justamente os mais ricos. É injusto dizer que a reforma é contra os mais pobres.

Como não estou aqui para defender o governo, posso dizer que é um erro tratar separadamente a reforma dos militares. Defendo, sim, uma regra única para todos os brasileiros. Exceção deve ser tratada como exceção – talvez faça sentido um policial militar se aposentar mais cedo. Sei que esse artigo não vai angariar simpatia. Não tem problema. Não sou candidato a nada. Sou brasileiro, tenho 40 anos e a minha geração será a mais prejudicada pelas regras de transição. E daí? Não estou aqui para defender os meus interesses. De forma altruísta, eu diria que estou pensando no futuro do País. De forma egoísta, eu diria que estou pensando no meu bolso, pois se a Previdência quebrar, eu não receberei aposentadoria ou terei de pagar algum novo imposto no futuro (que tal uma CPMF para as aposentadorias?) para salvar o INSS. Não se iluda. A conta sempre termina no bolso do contribuinte. Portanto, não consigo entender por que você é contra a reforma da Previdência.