Nos últimos cem anos, no mínimo, a gigante anglo-holandesa Unilever alternou entre as primeiras três posições do ranking das maiores empresas de bens de consumo do mundo, ao lado da americana Procter & Gamble e da suíça Nestlé. Com faturamento global € 52,7 bilhões, em 2016, detém marcas conhecidas por dez entre dez consumidores mundo afora – alguma delas famosas também por sua fórmula, digamos, não muito amiga da saúde, como o glutamato monossódico do caldo Knorr e o óleo hidrogenado da maionese e da margarina.

Nutricionistas mais radicais afirmam que esses alimentos devem ser banidos do cardápio, outros dizem que não causam mal algum. Polêmicas à parte, o fato é que a Unilever sinalizou, na segunda-feira 2, que sua estratégia está ancorada, cada vez mais, no campo das comidas saudáveis. A companhia adquiriu 100% da empresa de produtos naturais e orgânicos Mãe Terra, sediada em Osasco (SP). O valor não foi divulgado. “A Mãe Terra fortalece nosso portfólio de alimentos, permitindo acelerar nossa expansão no segmento de naturais e orgânicos”, disse o presidente da Unilever, Fernando Fernandez.

Borges, da Mãe Terra: “A Unilever entende como é importante preservar nossa cultura” (Crédito:Silvia Costanti / Valor / Agência O Globo)

O mergulho da Unilever no mercado de alimentos saudáveis coloca a gigante na disputa direta com outras grandes empresas do setor, como a rede Mundo Verde, do bilionário Carlos Wizard Martins. Embora a Mãe Terra, com 300 funcionários, seja apenas a nona colocada no ranking nacional de orgânicos, que movimenta quase R$ 30 bilhões por ano, segundo a Euromonitor, a força da distribuição e capilaridade da Unilever devem multiplicar exponencialmente os números da empresa. A empresa possui um portfólio que inclui cereais, biscoitos e snacks. “Vamos ampliar rapidamente a escala da Mãe Terra”, garante Fernandez.

A aquisição não representará, em um primeiro momento, grandes mudanças nos rumos da empresa de orgânicos. O empresário Alexandre Borges, que fundou a empresa em 1979, será mantido como diretor-geral. “A Unilever entende como é importante preservar nossa cultura”, afirma Borges. O fundo BR Opportunities, que detinha 30% do capital da Mãe Terra desde 2014 , vendeu da sua parte. “Era o momento certo de sair. A proposta nos deixou financeiramente satisfeitos”, disse à DINHEIRO o CEO do fundo, Carlos Miranda.

O plano da Univeler para diversificar – o já super diversificado – portfólio de produtos é uma tendência, mas não representa garantia de sucesso. “A diversificação é útil quando se quer diminuir a dependência de um só negócio”, disse Gerson Barzeli, professor da FIA. “Mas abrir mão daquilo que tem dado certo não é uma boa ideia.” Dois exemplos emblemáticos são o do McDonald´s e da Coca-Cola. Ambas investiram em produtos mais saudáveis, voltaram a priorizar seus produtos tradicionais. “O McDonald’s percebeu que quem entra num fast food não está preocupado em comer de forma saudável”, diz Enzo Donna, da consultoria ECD.