O presidente americano, Donald Trump, é uma pessoa irriquieta. No ano passado, seu alvo favorito foi Kim Jong-un, líder norte-coreano que não goza da simpatia da maior parte da população mundial. No início de 2018, ele decidiu criar caso com os chineses para sobretaxar a importação de aço do país asiático. A mais recente rusga do magnata é com o homem mais rico do mundo, Jeff Bezos, fundador e CEO da Amazon. Bezos também é o dono do Washington Post. E talvez seja essa a explicação para tamanha perseguição.

Trump acredita que a Amazon custa demais para o serviço postal americano, causando danos bilionários à instituição. Em sua conta pessoal no Twitter, ele afirma estar “certo sobre o custo de grandes quantias de dinheiro que a Amazon custa para o Serviço Postal dos Estados Unidos ao fazê-lo seu garoto de entregas” (em tradução livre). A mensagem foi publicada nesta terça-feira, 3.

No dia anterior, ele já havia dito que “apenas tolos, ou pior, dizem que nosso deficitário Serviço Postal ganha dinheiro com a Amazon. Eles perdem uma fortuna, e isso será mudado. Além disso, nossos varejistas pagadores de impostos estão fechando lojas por todo o país… Não é um campo de jogo nivelado!” (também em tradução livre).

O Serviço Postal dos Estados Unidos (USPS, na sigla em inglês) registrou um prejuízo de US$ 2,7 bilhões, em 2017. De acordo com o site de checagem de fatos políticos Politifact, essas perdas se devem principalmente a um processo de 2006, perdido pelo USPS, envolvendo o plano de saúde de funcionários aposentados. Além disso, eles concluem que todo o segmento de e-commerce nos Estados Unidos, no qual a Amazon está incluída, geram receitas de US$ 7 bilhões ao USPS, menos da metade do total de US$ 19,5 bilhões arrecadados em 2017. Seria exagerado creditar apenas à Amazon o prejuizo da instituição.

‘You Are Fake News’

Não é novidade que Trump tem ressalvas em relação à mídia norte-americana. Em janeiro de 2017, por exemplo, Trump se recusou a responder uma pergunta do correspondente da CNN na Casa Branca em 2017, Jim Acosta, acusando sua empresa de mentir. “You are fake news” (Vocês produzem notícias falsas), bradou. A companhia noticiosa afirmara que Barack Obama, então presidente, e Trump, já eleito, haviam recebido informações de que operadores russos alegavam ter informações pessoais e financeiras que poderiam comprometer o mandato do novo presidente. Esse foi apenas um caso entre diversos outros. E essa birra do presidente com a mídia pode ser a raiz do problema com a Amazon.

De acordo com a Vanity Fair, aliados do presidente acreditam que tanta raiva se deve ao fato de que Bezos é dono do Washington Post – ele comprou o jornal da família Graham em 2013. Parte da história do jornal e da família foi recentemente retratada no filme The Post, de Steven Spielberg. A publicação foi responsável por dois escândalos no governo do republicano Richard Nixon, cujo último, conhecido como Watergate, culminou em sua renúncia.

Atualmente, o Washington Post é um dos veículos de mídia mais combativos à administração de Trump, considerado de centro esquerda, ou liberal, na ótica de alguns consultores americanos. Isso faz com que alguns republicanos considerem o jornal alinhado às políticas do partido Democrata. “Quando Bezos afirma que ele não tem envolvimento [no jornal], Trump simplesmente não acredita nele”, afirmou uma fonte à Vanity Fair.

Fato é que, até o momento, na briga entre o homem mais poderoso do mundo contra o mais rico, quem parece estar vencendo é Trump. Ao menos, assim, é como vê o mercado financeiro. Na segunda-feira, 2, as ações da Amazon caíram mais de 5% na bolsa de valores das empresas de tecnologia, a Nasdaq. Nesta terça, as ações da gigante do e-commerce estão próximas da estabilidade. Após duas horas e meia de pregão, elas valorizavam 0,3%.