O pregão do dia 2 de março de 2017 parecia promissor para o Snapchat. Em seu primeiro dia na bolsa de Nova York, a companhia viu suas ações subirem de US$ 17 para US$ 24,54, alta 44%. No dia seguinte, elas fecharam em US$ 27,09. Os resultados empolgavam. O Facebook, principal rival, havia obtido uma decepcionante valorização de apenas 0,6% em seu IPO, realizado em 2012. Era justo dizer que Evan Spiegel, fundador e CEO da rede social do fantasma amarelo, tinha motivos de sobra para sorrir. Um ano depois, tudo mudou. Na quinta-feira 1, as ações da SNAP estavam sendo vendidas por US$ 16,91 cada. Pior: o prejuízo foi de US$ 3,4 bilhões para uma receita de US$ 825 milhões em 2017.

O dono do Snapchat, no entanto, não tem motivos para lamentar essas perdas. No ano passado, Spiegel recebeu US$ 638 milhões, tornando-se o CEO mais bem pago do planeta, segundo pesquisa da consultoria americana Equilar, que faz o levantamento de salários de executivos nos EUA. A alta remuneração é atrelada as opções de ações que ele recebeu quando a companhia abriu seu capital, que somam US$ 636,6 milhões, às compensações adicionais, de pouco mais de US$ 1,2 milhão, e ao salário anual, de US$ 98.078. Segundo a Equilar, Spiegel deixou para trás CEOs de empresas mais bem-sucedidas. Sundar Pichai, no Google, recebeu cerca de US$ 200 milhões em 2017. Tim Cook, na Apple, apenas US$ 12 milhões. “Acredito que este seja o maior valor que vimos nos últimos 10 anos”, disse, em nota, Dan Marcec, diretor de conteúdo da Equilar.

Kylie Jenner: em um tweet, a irmã caçula de Kim Kardashian fez o snapchat perder US$ 1,3 bilhão (Crédito:Divulgação)

Enquanto Spiegel ri à toa, quem investiu na rede social está apreensivo. O prejuízo bilionário é considerado alto, mesmo para uma empresa que ainda não tem seu modelo de negócio maduro. “É preocupante”, diz Roger Kay, analista da Endpoint Technologies. “Não pega bem quando o fundador está ganhando dinheiro e os investidores não.” Para piorar, a companhia ficou, de julho do ano passado até fevereiro deste ano, com ações abaixo dos US$ 17 ofertados durante o IPO. “Parte do problema é que o Snapchat não é lucrativo no momento”, disse Laith Khalaf, analista da consultoria Hargreaves Lansdown, ao portal britânico BBC. “O preço das ações tem sido influenciado pela expectativa que os investidores têm pelo futuro da empresa.”

Houve uma leve recuperação no início de fevereiro, quando os papéis subiram de US$ 13,92 para US$ 20,75 graças à divulgação dos resultados financeiros do quarto trimestre que apontaram crescimento de 72% na receita, para US$ 285,6 milhões. A felicidade, porém, durou pouco. Duas semanas depois, no dia 21 de fevereiro, a ex-participante de reality show e celebridade pop Kylie Jenner publicou uma mensagem no Twitter que caiu como uma bomba na rede social do fantasma. “Então, ninguém mais abre o Snapchat? Ou só eu… Que triste isso”, escreveu a garota que é irmã caçula da socialite Kim Kardashian. O mercado reagiu com agressividade. No dia seguinte, o valor do Snapchat chegou a cair US$ 1,3 bilhão. Hoje, a rede social vale US$ 20,6 bilhões.

Mesmo com bons resultados no quarto trimestre do ano passado, o futuro do Snapchat é nebuloso. Nos últimos meses, a companhia falhou em algumas tentativas de reformular seus negócios. A mudança do visual do aplicativo, que o deixou mais simples, não caiu bem e chegou a ser bastante criticada pelos usuários. Spiegel, por sua vez, já vendeu mais US$ 50 milhões em ações de sua empresa nas últimas semanas. “Talvez ele não tenha tanta fé em sua companhia e queira fazer dinheiro enquanto ainda é possível”, diz Kay, da Endpoint. Se esse for o plano, Spiegel está no caminho certo. O fantasma do Snapchat, no entanto, não tem motivos para sorrir.