Há dois meses o empresário Horst Ernest Volk, da Ortopé, é um foragido da Justiça. Condenado a nove anos por sonegação de impostos e emissão de notas fiscais frias, ele cumpriu apenas cem dias em regime semi-aberto. Nesse período, dividiu um quarto de albergue com trombadinhas e batedores de carteira. ?Foi a pior experiência da minha vida?, disse, por telefone, à DINHEIRO. Quando a pena foi mudada para regime fechado, em junho, Volk fugiu para Munique, na Alemanha, e não saiu mais de lá. ?Não tenho diploma universitário e ficaria em cela comum. Por isso saí do País?, diz. Como tem nacionalidade alemã, está a salvo da extradição. Ex-prefeito de Gramado (RS), ex-deputado estadual e ex-presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), hoje ele mora em casa de parentes, toma antidepressivos e pinta retratos de familiares para enfrentar a depressão.

Dinheiro ? O senhor se considera um criminoso?
Horst Volk ? Fui acusado de emitir seis notas fiscais frias e meu advogado já provou que quatro são regulares. Nunca falsifiquei documento algum. E não sou sonegador. Sou inadimplente, nada mais do que isso. Devo, não nego, mas não tenho dinheiro para pagar. Deixei de recolher R$ 600 mil para o INSS, de um total de R$ 52 bilhões que os empresários brasileiros devem ao instituto. Só eu não pude atrasar o pagamento. Todos os dias me pergunto: por que eu?

Dinheiro ? E qual a resposta?
Volk ? Acho que a Justiça resolveu fazer de mim um exemplo. Foi uma conjugação de esforços para me prender. No dia seguinte ao pedido de prisão nove policiais federais apareceram na minha casa e me levaram. Mas o que eu deveria fazer? Deixar de pagar os salários de 2 mil funcionários? Ou deixar de pagar fornecedores e parar a fábrica? Não tem empresário brasileiro que faria diferente. Se eu tivesse feito diferente teria fechado a empresa. O que me deixa mais chateado é que a dívida de R$ 600 mil está paga.

Dinheiro ? O sr. pagou como?
Volk ? Entreguei uma fazenda minha na Bahia como garantia. A fazenda cobre a dívida e ainda sobra muito. Paguei a dívida e ainda mereço ir para a cadeia? E por que só eu? Se a Justiça decidir prender os outros milhares de empresários que devem ao INSS vou preso junto com eles, de mãos dadas. Mas sozinho, não.

Dinheiro ? Comenta-se que o sr. construiu uma casa de US$ 1 milhão em Gramado e por isso deixou de pagar o INSS dos funcionários…
Volk ? É uma mentira muito grande. Construí a casa em 1991 e o processo do INSS é de 1995, 1996. Quando construí tinha recursos. Até parece que ter sucesso na vida é crime. Já fui operário de chão de fábrica da Ortopé e não acho que é crime ter uma casa melhor depois de 45 anos de trabalho duro.

Dinheiro ? O sr. teve dificuldades para sair do Brasil?
Volk ? Não saí por São Paulo, como disse a Polícia Federal. Recebi a ajuda de amigos, mas não posso dizer mais para não comprometê-los.

Dinheiro ? Como o sr. paga suas contas na Alemanha?
Volk ? Sou aposentado pela Ortopé desde 1996, mas mantenho uma consultoria de desenvolvimento de produtos. Recebo salário mais aposentadoria.

Dinheiro ? O sr. pode revelar de quanto é essa renda? volk ? Não, claro que não. Dinheiro ? O sr. pretende se entregar?
Volk ? De jeito nenhum. Só volto se puder responder o processo em liberdade. Me mataram em vida, amputaram as minhas mãos porque não me deixam nem trabalhar. Mas ainda assim quero muito voltar para o Brasil. É a minha pátria. Não tenho planos para a Alemanha. Quero mesmo é comer churrasco e tomar chimarrão.