Em tempos de indecisão eleitoral, como o que o Brasil atravessa, poucas bandeiras se mostram tão impopulares como a do chamado “candidato do mercado”. O rótulo, a começar pelo nome, é um fracasso. E, sob a ótica do marketing político, deveria ser banido por todos os aspirantes ao cargo de presidente nessas eleições. Se você duvida, avalie o cenário atual das pesquisas de intenção de voto, que colocam o deputado bangue-bangue Jair Bolsonaro à frente de neoliberais conhecidos, como o governador Geraldo Alckmin, o economista Henrique Meirelles, o executivo João Amoêdo (foto) e, dizem por aí, até o empresário Flávio Rocha, dono da Riachuelo. Sem esquecer, é claro, do próprio presidente Michel Temer, o pai das reformas mais impopulares – e necessárias – da história da República.

Esse alerta partiu do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso, que definiu a alcunha “candidato do mercado” como alguém distante do eleitor. “Desses candidatos, quem for candidato do mercado vai perder. É simbolizado como se fosse dos ricos. Daí acabou”, disse FHC, durante evento promovido na capital paulista pelo jornal O Estado de S.Paulo, na última semana. A explicação para esse fenômeno é simples e de fácil compreensão: para a maioria da população, mercado não significa muita coisa – talvez seja um lugar para comprar frutas, legumes e peixe fresco. Para outra ala que compreende a definição de “mercado”, trata-se de um clube de patrões que, diariamente, exploram seus empregados.

Para eles, o tal mercado não coloca comida no prato, não incentiva o assistencialismo, não distribui renda. Pelo contrário, concentra. No fundo, FHC está certo. Basta sair dos grandes centros urbanos para constatar que índices econômicos, taxas de juros, flutuação do câmbio ou déficit e superávit da balança comercial são insignificantes perto da preocupação com a continuidade do Bolsa Família, das mudanças nas regras da Previdência Social, das políticas públicas voltadas à segurança, entre outros assuntos pouco abordados – ou simplesmente ignorados – pelos candidatos do mercado.

Outro problema é que o eleitor médio não consegue associar a prosperidade econômica a seu cotidiano. Continua sonhando com o presidente Robin Hood, salvador da pátria que vai tirar dos ricos para encher a mesa dos pobres. Acredita que o combate à classe empresarial é a solução para reduzir a desigualdade, o abismo entre a elite e os menos favorecidos. Essa conversa fiada, que costuma eleger picaretas populistas, se repete de tempos em tempos, e sempre acaba mal.

Pelos próximos oito meses, candidatos de esquerda, de direita, de centro e aqueles que não sabem como se definir, terão a oportunidade de apresentar suas ideias, debater propostas e tentar convencer o eleitor de que nem sempre o remédio mais doce é o que melhor cura. Ao mesmo tempo, terão de explicar o que mercado significa para a economia, para a sustentação dos programas sociais e para o Brasil. Isso vale para Alckmin, Meirelles, Amoêdo, Rocha, Temer ou qualquer outro pretendente ao cargo de presidente. Caso contrário, os eleitores terão de aprender na prática, mais uma vez, o estrago que um presidente antimercado é capaz de fazer.