Um debate antigo voltou à tona: o custo do crédito no Brasil. Um conceito de difícil compreensão, o spread, está no centro de uma agenda do Banco Central para reduzir a taxa de juros cobrada do consumidor para estimular a economia.

O spread é a diferença entre o custo do dinheiro para o banco (o quanto ele paga ao captar o recurso) e o quanto ele cobra para o consumidor na operação de crédito. Em números: é taxa de aplicação (32,8%) menos a de captação (9,5%), que resulta numa margem de 23,3 pontos porcentuais, segundo o BC.

O spread teve, em dezembro do ano passado, uma leve queda de 1,1 ponto porcentual, em relação ao mês anterior, mas voltou a subir em janeiro. Mesmo com a expectativa de continuidade da queda da Selic, a taxa básica de juros, ainda vai demorar para o barateamento do crédito aliviar o bolso do consumidor. “Vamos engatinhar na queda do spread. A melhora só será sentida em 2018 e 2019”, diz Mauricio Godoy, professor da escola de negócios Saint Paul.

Descompasso. Mas a dúvida persiste: se a taxa Selic está caindo, a inflação já foi projetada para abaixo da meta e a economia parece dar sinais de melhora, por que o crédito continua caro?

 

Godoy explica que o spread olha para o histórico e a perspectiva de inadimplência dos consumidores. E, diante do cenário atual, com 12,9 milhões de desempregados, é difícil imaginar que as condições de renda irão melhorar no curto e médio prazos.

Na prática, isso quer dizer que o desempenho capenga da economia e o desemprego alto mantêm acesa a luz vermelha para o risco de calote, mesmo com a inadimplência média entre pessoas físicas e jurídicas esteja estável em 3,7%. Com esse alerta, os bancos continuam sem estimular o crédito, e o spread permanece elevado.

Além do aperto nas finanças dos consumidores, do lado das empresas a situação também inspira cuidados. A maioria das companhias opera com alto nível de ociosidade, ou seja, sem perspectiva de reabsorver a grande massa de trabalhadores desempregados.

Para complicar o cenário, outro vilão do spread alto é o descasamento das operações bancárias. Com mais pessoas recorrendo a reservas financeiras de emergência, diminuem os recursos prontamente disponíveis para pagamento de bens e serviços, também chamados de saldo médio diário dos meios de pagamento restritos (ou M1). A cifra ficou em R$ 325,3 bilhões em janeiro, queda de 4,6% no mês.

Ainda dentro das operações estão as reservas que o banco faz contra possíveis calotes, a chamada Provisão para Devedores Duvidosos (PDD), que também contribuem para rarear o dinheiro disponível para crédito.

Tipos de crédito. Se considerado o spread só do crédito livre, quando o banco tem liberdade para estipular o custo dos empréstimos e financiamentos, como crédito pessoal e cheque especial, o lucro dos bancos responde pela maior fatia do spread, segundo o próprio BC.

João Morais, economista da consultoria Tendências, discorda desse raciocínio. Para ele, um dos principais condicionantes para o elevado custo do crédito livre, principalmente o voltado para pessoa física, é o grande volume de crédito direcionado.

O crédito direcionado é composto pelos financiamentos imobiliários, crédito rural e as operações de crédito com recursos do BNDES. Este tipo de crédito possui juros subsidiados pelo governo, e não sofre o impacto da política monetária do BC.

Morais explica que, mesmo que a inadimplência dessa modalidade seja baixa, o subsídios ao direcionado deixa a fatura para o crédito livre. Quando a inflação sobe e os juros são altos, é preciso repassar o custo pelo canal disponível – o crédito livre.

Segundo o consultor da Tendências, se o BC pudesse atuar no custo das duas modalidades, esse aumento seria diluído, e o spread do crédito livre não seria tão alto.