Há cerca de 2 mil anos, o filósofo, educador e historiador grego Plutarco cunhou uma frase cuja essência reverbera até os dias atuais: “É com os erros que os homens de bom senso aprendem a sabedoria para o futuro”. Aprender com os próprios erros significa, entre outras coisas, não voltar a cometer os equívocos do passado. E quanto mais grave a falha, mais importante o aprendizado que evitará sua repetição. Os diretores da Vale bem que precisavam de umas aulas com o sábio mestre Plutarco.

Após a tragédia de Mariana, que causou 19 mortes, destruiu rios, matas e afetou mais de 500 mil pessoas, em 42 municípios de dois Estados – Minas Gerais e Espírito Santo -, a companhia teve nas mãos uma rara oportunidade para aprender com o maior desastre ambiental da História do Brasil. Ocorrido em novembro de 2015, o rompimento da barragem de Fundão, na região de Mariana (MG), foi resultado de uma administração negligente das três empresas responsáveis por aquela operação: BHP, Samarco e Vale.

O estrago foi tamanho, que até hoje, mais de três anos depois, os danos sociais, ambientais e econômicos são sentidos, pela natureza e pelas vítimas. Os rios engolidos pelo mar de rejeito de minério de ferro ainda não recuperaram o vigor do passado – e ambientalistas afirmam que talvez nunca recuperem. Entre os moradores da região afetada, são comuns casos de depressão, doenças respiratórias e de gente que jamais conseguiu reorganizar a vida financeira, já que perderam o sustento, como no caso de pescadores e agricultores. Esperava-se que a Vale, a maior das três empresas envolvidas no episódio Mariana, tivesse aprendido com toda aquela desgraça e se preocupado em usar esse sofrido ensinamento para evitar que outra calamidade desse porte se repetisse. Mas a tragédia não só se repetiu, como trouxe um custo muito maior em vidas humanas.

O rompimento da barragem do Feijão, em Brumadinho, também em Minas Gerais, despejou 12,7 milhões de metros cúbicos de rejeito na natureza. Em comparação com Mariana, os danos ambientais serão menores, já que o volume de rejeito representa apenas cerca de 24% dos 55 milhões de metros cúbicos vomitados pela barragem de Fundão no meio ambiente. Em Mariana, porém, foram 19 vítimas fatais. Em Brumadinho, até a noite da quarta-feira 30, havia 99 mortes confirmadas. Outras 259 pessoas continuavam desaparecidas. Como as chances de encontrar sobreviventes nessas condições é remota, o total de mortos pode ser vinte vezes maior que o de Mariana.

Homens, mulheres e crianças cujas vidas poderiam ter sido poupadas, simplesmente se uma das maiores companhias do planeta tivesse aprendido com seus erros do passado. Para as famílias das vítimas, pouco importa que a Justiça tenha bloqueado R$ 11 bilhões da Vale. Pouco importa que a Polícia Federal tenha prendido engenheiros da mineradora, sob suspeita de terem fraudado um laudo técnico que atestava, em setembro do ano passado — apenas quatro meses antes do desastre —, a estabilidade da barragem. A dor e o drama delas não terá fim. Quatro dias após a tragédia, o presidente da Vale, Fábio Schvartsman, anunciou que a empresa irá desativar todas as barragens que seguem o mesmo modelo de Mariana e Brumadinho. Se essa medida tivesse sido tomada logo após o rompimento da barragem de Fundão, a calamidade de Brumadinho não teria acontecido. A direção da Vale parece ter aprendido tarde demais.