O título deste artigo reproduz, de propósito, aquele de um livro do grande escritor cubano-italiano Ítalo Calvino, publicado postumamente em 1991 e que acabou por se tornar ele próprio um clássico. Reunindo ensaios produzidos ao longo da última fase da sua carreira de crítico literário, a obra determina um marco fundamental na história da cultura contemporânea ao apontar, por um lado, as consequências da perda de prestígio e da presença dos grandes livros no processo de formação educacional e cultural a partir do século 20 e, por outro, por chamar atenção para a necessidade do urgente resgate dos clássicos como forma de combater a desumanização em curso.

Passados exatos 30 anos, verificamos que aconteceu com o livro de Calvino o mesmo que ele próprio apontava ser uma das 14 características fundamentais de um clássico: quanto mais o tempo passa, mais atual e necessário ele se torna. Isso porque, se já nas últimas décadas do século passado, quando a internet e a inteligência artificial ainda davam seus primeiros passos, a marginalização da grande literatura por parte do público apresentava-se como uma tendência considerável, nas atuais circunstâncias, num mundo dominado pelos smartphones e redes sociais, tal fenômeno se consolidou, trazendo efeitos no mínimo preocupantes não apenas para o âmbito educacional, mas para a cultura e para nossa civilização como um todo.

Num contexto em que a experiência da leitura vem se limitando a posts e a tweets cada vez mais shorts, ou em que ela simplesmente vai sendo substituída por vídeos tutoriais, como justificar a necessidade de se “enfrentar” uma obra como Guerra e Paz, de Liev Tosltói (mil páginas) ou Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa (600 páginas)? Com isso, não quero dizer que o fenômeno das redes sociais e do incremento das novas tecnologias de comunicação sejam um mal em si; o problema, certamente, não está no ganho que toda essa revolução significa, mas sim na perda que ela acaba por causar, na medida em que vamos abandonando uma certa experiência que poderia nos proporcionar dividendos incalculáveis em diversas dimensões da nossa existência.

Calvino, fazendo coro com outros gigantes do universo não apenas literário, mas também cultural, científico, político e mesmo empresarial, destaca em sua obra o valor inestimável da experiência da leitura dos grandes clássicos da literatura para a construção da nossa personalidade, da nossa visão do mundo e, certamente, para o desenvolvimento da nossa inteligência emocional. Em especial, no contexto corporativo, onde competências e habilidades como criatividade, proatividade e sensibilidade são cada vez mais valorizadas e demandadas, o hábito da leitura dos grandes clássicos pode e deve se apresentar como um recurso extremamente útil e precioso.

Torna-se urgente redescobrir os grandes livros da literatura universal, não apenas como um meio de desenvolvimento cultural e intelectual, mas como recurso humanizador por excelência.

É fundamental que os líderes e gestores envolvidos com educação corporativa percebam a importância de trazer os clássicos para o processo de formação, pois, como ensina Calvino, eles são não só o meio de “entender quem somos”, mas também de saber “quem queremos ser” e por “onde devemos ir”.